quarta-feira, maio 19, 2010

O reino e o fim

Eu quero meu próprio reino! Nem que seja o das palavras. Nem que seja o simples sopro das palavras. Minha vida lamenta o curto espaço dela como se previsse o fim para breve. Mas não havia cocaína na bolsa e, nem mesmo drogas injetáveis... Como aquela vida tão juvenil iria partir-se assim em definitivo e tão rapidamente? Não era a carne que lamentava o insosso da vida: era a alma! Ela não suportava mais a infâmia da insensibilidade, a miudeza dos gestos fajutos, as hipocrisias ferozes... Não havia tempo e razões suficientes para submeter-se a tão viscerais dores. Havia um degredo inexpugnável. Do alto do céu anil que se perdera em sua memória, as nuvens traçavam caminhos... Eram trilhas imaginárias. Macias para aliviar a dor de ter vivido. Era a bala alojada na alma, cansada de ser errante na certeza incerta do discurso. Vou-me embora! Sinto o peso do mundo nos ombros. O peso de não ter devidamente me adaptado ao modo de vivente. Estou preso ao caderno e a palavra. Apenas isso me mantinha aqui de algum modo. Então, se é assim, que eu siga para o meu não-lugar desejado. Lugar onde eu possa ser tudo mesmo sabendo que nada mais sou de fato: pois, estarei descansando da vida... Logo, estarei me despedindo de existir. Logo, nada serei além de uma lembrança tosca, mas acima de tudo, uma lembrança. Que o meu reino me abrigue. Que tenha virtudes de céu e a quentura de infernos. Só não terá vida, pois esta incontestavelmente sempre me escapou...

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