quinta-feira, dezembro 01, 2011

Vou seguir a flor

Por hoje parei.
Vou dormir.
Deixa a vida correr.
Deixe que vá seguir.
Minha estrada é minha e de tantos outros.
Minha luta é sina, é amor e sonho,
É a alma e o corpo.
É o tom e a voz, a frequência.
Não me ensine, não me estude.
Não me convenha.
Sou um pedaço só, um pouco do pó, a laço, o nó,
O lá e o dó.
Vou seguir a flor.
Seu cheiro, sua cor.

Samba e imaginação

Eu fiz um samba de saudade da outra metade
Eu fiz um samba com o teu amor contornando cada acorde
E neste samba eu sambo menos e imagino muito mais
Do que seria o teu rosto junto ao meu agora aqui neste lugar!
Eu que não vento e que causo ventanias por onde passo...
Eu que não entendo as canções, os sons modernos
Que não vivi nas outroras, nos pretéritos
Aprendi a fazer meu próprio carnaval...
E saí pela cidade a procurar luares e estrelas,
De manhã as borboletas me abordarão
Para lembrar-me que a vida é uma janela
Pela porta só deixo você entrar.

Vocês

Eu gosto quando vocês estão bem.
Fico feliz quando estão em paz,
Quando se entendem,
Quando se enamoram.
Gosto quando se juntam num só sentimento.
Quando se cuidam, quando são mútuos.
Não é que eu admire e torça pela solidariedade entre vocês,
Não é isso...
É que para mim, o que os une é um amor humano.
É mais que vivência... É consistência.
É paixão pela vida.
É desejo infinito do outro.
E quando se desentendem, sobra dor.
E quando se recuperam sobra amor!
Gosto de vocês comigo, nessa valsa da vida...
Onde nunca será absurdo amar sem medida!

Estação

Seguro-me em teus braços.
Deito a vida ao teu lado.
Face a face.
É fácil entender tua calma.
Pois repousas no infinito.
És meu anjo.
Infiel ao mundo por mim.
Permita-me procurar a vida em teu olhar.
Horizontes se revelam.
Tua luz é meu farol, meu sol.
Prender-te em minha sincera entrega.
Sou a tua única estação.
A tua última.
Assim seja.
Assim persista.
Assim caminhemos.

Venenos

Optei por não replicar venenos destilados por aí.
Afinal de contas, são só venenos.
Nem todo veneno mata
E o que "mata" o veneno é o ato de ignorá-lo.
Destilam... Destilam... A meta é o inatingível.
Meta fadada ao fracasso.
Então, resta viver
Já que atingir é um verbo que não cabe em minha procura.
Minha imperfeição está denunciada, de corpo e alma.
Não possuo a sabedoria de não saber ouvir e nem reconhecer um erro.
Pois, se assim for, permanecerei imaturo.

Sua "terra" longe

A terra está tão longe...
A história está insone...
Meu fascínio rompeu,
Meu olhar se desfez.
É estranha essa forma de olhar o mundo
De repente sinto a violência dos sonhos
A violência da vida...
Dispara mais que o peito apaixonado.
Degusta mais os sabores desconhecidos.
Lamúria... Sim, mas no plural.
Donos de metades, apenas metades.
Aos poucos, falhando, entendo o ritmo, o compasso.
Com passos largos ampliando os buracos, ainda que rasos.
A terra está tão longe que eu nem sei voltar para aquele absurdo que é onde você repousa sua verdade.
A terra está tão longe que suas notícias não me atingem.
Tudo que construímos parece tão superficial que nem sei se um dia existiu.
Mas estamos vivos, lamentando não a distância, mas a liberdade de já não nos prendermos.
Que a clareza nos ampare, ferindo, mas nos abra para nós mesmos.

quinta-feira, novembro 10, 2011

Mães


O colo da minha mãe, seu olhar, seu cheiro,
Ninguém nunca terá.
Ninguém nunca terá a textura da pele dela,
A serenidade, a franqueza, a verdade da qual ela é feita.
Quando a minha mãe sorri, eu me rendo.
Quando a minha mãe chora, eu enlouqueço...
Terei sempre por ela um sentimento de proteção...
Crescemos, mas no fundo seremos sempre as crianças que elas emprestaram amor e o ventre para virmos ao mundo...
E hoje? Hoje, a gente é quem deseja proteger a nossa mãe da fúria do mundo.
Hoje a gente não quer que nada a decepcione, maltrate e fira.
A nossa mãe é rara para nós.
A nossa mãe é o nosso laço eterno com a vida.
A nossa mãe é a nossa idealização.
A nossa mãe somos nós em medidas não definíveis!

Perto, mais perto


Eu queria estar mais perto...
Mas não é isto que lhe provaria que estou inteira para você.
Não é isto que sugere o tamanho do meu sentimento e o volume de minha vontade de você.
É o que não se pode tocar que explica a vida e o amor
E só por isso é que em alguns momentos eu penso no quanto gostaria de estar mais perto.
Porque o tempo está a nos mostrar o quanto as coisas são mais simples do que aparentam...
Aliás, aparências não nos explicam.
Somente diminuem um conceito nosso.
Eu quero estar junto de maneira diferente!
Eu te alcanço via coração...
É só isto que basta.
O abraço é apenas um momento.
Mas, se vem junto com o sentimento,
Ah! Então nem ouso qualquer mera definição.

Nossa nova fase


Permitimos-nos a distância.
Ao que parece, ela nos libertou!
Ela não nos separou,
Ela nos fez nos alcançar...
O nosso amor e a nossa saudade explodiram em nós
De modo que hoje, nos encantamos com a chance de nos conhecermos novamente...
A cada dia...
A cada riso...
A cada gesto...
A distância nos aproximou.
Nosso amor é fato.
Nosso amor é traço do pedaço do outro...
E o pedaço do outro é esta parte inteira dele que nos soma, nos invade e nos norteia...
Descobrimos um ao outro.
Passo a passo.
Não temos pressa, temos só saudade.
Não sabemos se é cedo ou tarde,
Apenas vivemos cada parte desta nossa nova fase!

sexta-feira, outubro 07, 2011

Não sei se há tempo


Gentilezas e não bajulações.
Educação e não “forçação”.
A hipocrisia tem suas formas sutis.
Contudo, um dia, elas resplandecem aos nossos olhos.
Como raios, perfuram nossas fugidias certezas:
Ninguém está absolutamente “junto”.
A união é só mais um discurso numa teia de lamúrias.
Portanto, reúna seus argumentos
Pois, agora, os gestos passam feito um filme
E os sentimentos pedem passagem para outras paragens.
Não sei se ainda há tempo para explicações práxis.

O amor entre muros


A conveniência não constrói coisas sólidas.
A preocupação em não ficar mal com os outros não nos absorve do que pensamos de verdade.
O medo de contrariar é estúpido.
Cada um sabe do limite de seus defeitos e qualidades.
Ninguém é absolutamente bobo.
Quem ama discorda, contraria, debate e se posiciona
Pois o muro é um lugar falível.
Na sua frente te acarinho para proteger-te do que realmente penso
Quando poderia apenas te respeitar, ser honesto dizendo o que penso,
Mas parece que ainda prefiro fingir que te entendo.
Finjo que estou do teu lado, que concordo com você.
Finjo, bajulo, fujo.
Para mim, esta é a mais estranha forma de dizer e demonstrar que se ama alguém.

O desconforto do tempo


Quero o tempo em seu desconforto,
Uma forma de ensandecer o mundo.
Gosto dessa forma abstrata de ser transparente.
Sou feito as gentes que fogem das lentes.
Aprisionar-me nem sequer numa fotografia.
Quero um suspiro longo em virtude de delícias sentidas.
Quero abstrair-me.
Quero absolver-te dos teus (pré)conceitos,
De tua antecipação em excesso.
Sinto pela forma como enxergas as coisas,
Mas, quando tu sentires o pesar dos gestos bobos
Talvez neste instante, o tempo te desconforte
E uma dor nos invade logo que isto ocorre.
Mais a frente, entenderás: toda dor tem seu prazer.
O prazer de não permanecer o mesmo.

Um Rock


Falta o ar...
A voz rouca canta uma necessidade qualquer.
Outras quimeras, outras dores, outros risos.
Gritar a vida, o sentimento, a morte.
Ouço um rock,
Guitarras me transportam...
Reflito. Não sei bem, mas sinto tudo por um fio.
Algo me rasga, me emana de intensidade...
Desejo de ser tudo aquilo que o momento exige.
Apenas o momento.
O momento em mim.
Extravasar em mim...
Minha face entre as paredes, meu corpo entre os móveis, os choques,
Minh’alma na janela.
Minh’alma é a minha janela para o mundo...
Mas hoje, apenas hoje, eu queria ser este hoje sem preocupar-me com o amanhã.
Porque o amanhã... O amanhã é uma ilusão!

segunda-feira, maio 09, 2011

Já não lido bem com a saudade

Angústia das horas?
Ah, quero vento no cabelo, no rosto e muitos sonhos repousando no travesseiro...
Tenho certas sentimentalidades que me ultrapassam...
Tenho ânsias e eu achava que sabia lidar bem com elas...
Grande ilusão... Eu não sabia... Eu não sei!
Eu não sei lidar com saudades...
Com formas de saudades...
Com as luas que me devolvem a sensação de metade...
Sou metade porque a saudade me divide...
Tudo bem... Eu sei que ela me enche o peito, faz acelerá-lo...
Mas também corta, sangra...
Sentir saudades é uma forma de sangrar...
E a única maneira de estancar: eu me preencher novamente.
Quero estar completa outra vez...
Desta vez, para a vida toda.

Essa forma do tempo...

As vezes o tempo é um bandido que nos rouba os melhores momentos...
E a nossa alma segue esbarrando nos resquícios desses momentos...
As lembranças se erguem nos castelos de nossas memórias
E nos inundamos de sentimentos que não se explicam.
Até quando o tempo que corre ou que estaciona regulará a seu bel prazer a minha vida e meus desejos insanos?
Ah! O tempo é a questão da minha vida...
Seja nessas palavras que teimo em expressar
Ou nas escolhas que fiz para mim...
Eu sei que falta-me a paciência, mas também sei que me sobra amor...
Amor de dentro para fora...
Amor pra destoar velhos conceitos...

quarta-feira, maio 04, 2011

O céu e eu

Olha pro céu, tem um pedaço meu por lá.
Azulado, enluarado, negro céu de azuis diurnos
Tudo lá no céu contorna minhas formas desejosas de te sentir aqui...
Mãos que querem alcançar a imensidão,
Olhos que se encerram em seu próprio estado de perdição a observar...
Pés no chão contraditoriamente a flutuar...
Coração pulsando aceleradamente a cada lembrança,
Boca seca, por vezes cheia d'água de imaginar os sabores teus...
Alma voando... Deslizando em si mesma...
Toque o céu nesse pequeno pedaço meu do mundo...
Roube a lua, o enluarar da minha desrazão...
Vem, encontre-me em você.

Erros

Tenho ou não medo de errar?
Errar é possibilidade e não veredito.
Arriscar é contestar certezas e não temer as dúvidas.
O erro não é necessariamente um inimigo.
Acertar é uma busca.
Ninguém acertou tendo a fria certeza disso.
Acreditar é uma condição para acontecer.
Agir é o caminho para conquistar.

Chuva

Quero ouvir esse barulinho da chuva lá fora.
Silencie um minuto. Ouça comigo.
Me acompanhe nos segredos dessa trilha de pingos d'água tocando o chão, molhando a terra, derramando de tudo um pouco.
Estacione o seu olhar. Veja o lindo espetáculo da vida e da natureza.
Ao longe, mas ao mesmo tempo tão perto, aproveite este momento para imaginar...
Imagine que tudo é possível.
Eu sei que naquelas líquidas particulas algo de mim se dilui.
A chuva me chama com suas formas nostágicas de me querer perto...
Eu a observo sem compromisso com o mundo, atraída apenas pelo seu caimento...
Eu me atravesso pelas grades do portão...
Esse tempo, esse quase temporal, essa forma tranquila de ser intranquila me encontra em minhas circunstanciais fragilidades...
Quero fazer chover em mim pra deixar correr para fora tudo que já não me alegra.

quarta-feira, abril 20, 2011

Simplicidade

Sim, a simplicidade nos sofistica,
Corrobora nossa realeza "almática".
Nos devolve o riso,
Surpreende os tolos,
Cala os pretensos seres exemplares.
Ser simples é assumir-se imperfeito.

Abril

Abril se espedaçando...
Estão se aproximando os momentos finais
E os feriados passarão assim como as lembranças insólitas.
É só mais um mês talvez...
O mês dos últimos arianos e de boas vindas aos primeiros taurinos...
Abril se abriu aos quatro ventos...
Se fez fogo, vento, chuva, calor e frio variando.
Alma ora sonhando ora inflamando.
Tudo em (des)equilíbrio.
Cio pela vida, pelo amor, pela arte.
Abril de sonho em sonos intermináveis.

Gravidade

Gravitar...
Orbitar sem fim pelo infinito desses sentimentos indefiníveis.
Os pés fora do chão,
A alma a levitar,
O coração a flutuar...
Não estar preso a esse lugar, ao convencionalismo daqueles rostos que de longe observo.
Eu pensava que aquilo que eu tanto desejo estava longe, mas não...
Eu é que estou longe de estar aqui onde estou...
Onde gostaria de estar somente se...
Se tudo fosse menos chão, solo, raiz...
Tenho desejo do ar... De ser um intermédio necessário entre o ar e a terra.
O meu único espaço seria o espaço de um vôo.
É dessa forma que desejo estar e me entregar.
É um grave erro não materializar isto.
Está é única gravidade: estar preso por circunstâncias.
E com essa necessidade de me expandir torno-me aéreo.
Com os pés fora do chão, sobrevoando a vida pelo sentimento, reino nas altas gravidades...
Sim, eu gravito. Por respeito de tudo quanto almejo, eu gravito!

Calcular

Já não tento calcular os obstáculos.
Essa tarefa me parece insuficiente para se alcançar um resposta.
Mas talvez eu nem deseje respostas.
Talvez desde sempre soubesse que elas são mutáveis tão quanto as perguntas...
Mas a vida não é um interrogatório.
Ela é um caminho.
Qualquer tentativa de definição torna-se ridícula.
Costuma-se dizer que para entender o seu sentido basta vivê-la, senti-la à flor das vivências.
Há quem a respire naquilo que não tem cheiro ou onde ele é imperceptível.
Sendo assim, procurarei entender menos os porquês e viver a dúvida.
Quem sabe assim, nenhum cálculo será necessário.

quinta-feira, março 31, 2011

Detalhando...


Detalhes: essas coisinhas miúdas que nós temos.
Que nós criamos.
Coisas para nos devorarmos.
Para nos decifrarmos.
Silenciarmos ou esbravejarmos.
Detalhe por detalhe eu conquisto o infinito.
Seja lá onde for, tudo se reparte para tornar-se inteiro.
Contradições.
Detalhes.
Detalhar.
Estar assim: nos mínimos detalhes

Canções e velhas coisas


Melodias para me fazer viajar...
Canções dissonantes... Velozes... Furiosas...
Canções-conceitos...
Canções, delírios.
Música para entorpecer a vida
Penetrar nos ouvidos
Rasgar a alma
Consolar o coração
Enfurecer as raivas
Desabafar as tristezas...
Canções para cantar o mundo, a vida e a felicidade.
Trilha para embalar nostalgias.
Sons perfurando sentimentalidades.
Caminhos melódicos para dizer tantas coisas...
Ah! Guitarras, flautas...
Cordas, sopros...
Sussurros, palavras desencontradas encontrando o alheio.
O vento leva para longe a palavra cantada.
Sim, os acordes, partituras, os vinhos
Tudo está no outro.
Tudo vai ao outro.
Tudo vai ao outro para enfim me alcançar.
Tudo longínquo para eu delirar e me inspirar de novos dizeres para falar de velhas coisas!

Como um pedaço do mundo...


Quero ser capaz de romper minhas dores estranhas.
Tenho ânsias.
Sou composta de ausências.
Acompanho-me do imprevisível.
Às vezes vôo.
Quando dou por mim já estou distante...
Possuo o dom de me perder dentro de mim mesma.
Aqui, nesses meus pensamentos, nesse meu coração embalsamado, tudo é labiríntico.
Não adianta fingir, dar forma, desenhar sanidades...
É louco reconhecer, mas sei que sou pedaço.
Pedaço do mundo.
Pedaço daquilo que se pode supor.
Pedaço do que poderia deixar para trás.
A vida é um pedaço.
A vida é um tudo dentro de mim.
Eu sou metade de mim aqui dentro.
Eu serei sempre tantas coisas que não resultarei em nada.
Não concretizo uma idéia de mim.
Minha matéria é imaterial demais.
Minha difusão sucumbe uma possível definição.

Constatação


Todas as horas sem você são vazias
Porque o meu dia só é realmente completo com você.
Você protagoniza em minha história.
É meu doce encanto. Minha tradução de pureza.
É o meu encontro com a sutileza das formas do mundo.
Com as rotas indefiníveis do destino.
Com o brilho exacerbado do olhar.
Tudo com você é absolutamente especial e único.
Sou hoje, um resultado do toque de tuas grandezas em mim.

Uma nova forma de sentir


Quero uma nova forma de sentir.
Uma nova maneira de me sentir vivo.
Quero me perder entre o volume invisível do vento
Respirar essências distintas
Delirar com o brilho dos olhos desconhecidos...
Quero uma paz tempestuosa
Um devaneio febril
Sobreviver aos temporais
Ignorar os perigos
Desconhecer a tudo
Para me conhecer mais profundo.

Não quero a chave do destino.
Minha estrada é difusa.

quarta-feira, março 30, 2011

Entranha perfeição

Vamos caminhar nos campos onde repousam nossas insatisfações.
Lá uma terapia da destruição silenciosa se perpetuará.
As vezes queremos correr desesperadamente dentro de nós...
Nos percorrermos...
Nos aventurarmos no extravasamento de nossas sensações mais insólitas...
Por vezes necessitamos de um comportamento absurdo para nos vestirmos dele.
Desejamos quebrar a cara em um muro alto.
Passo a passo expressando as nossas formas mais desagradáveis.
Queremos sangrar, é fato.
Queremos nos bater para nos aliviar das culpas que carregamos conosco...
Queremos chorar ao berros.
Queremos parar de termos que nos controlar.
E só incontrolados nos encontraremos com nossas mais sujas ideias!
Ah, ser perfeito é a condição para se sentir vazio.
Até para sentirmos nossas dores e sofrermos em paz, temos que nos esconder...
Estranho isso de termos que nos trancar num quarto para derramarmos longe do mundo as lágrimas de nossa mais incompreendida verdade...

Quietude

Eu me reinventei para me aproximar de mim...
Sigo sufocando alguns gritos
Quase sempre silenciando...
Percebi que o barulho é uma sonoridade complexa...
As vezes calar é compreender um limite que realmente existe na vida.
A forma de quietude é intranquila.
Tenho um discurso para proferir.
Mas há hora para tudo.
Deixe estar...
Seguiremos, talvez não totalmente aniquilados...

terça-feira, março 29, 2011

Textualizando sentimentos

As vezes o céu invade a janela e me permite sentir a sua cor se aproximando...
É uma sensação direfente, essa de tocar o azul em infinitas distâncias...
As vezes parece que o tempo vai congelar
e que assim eu poderei enfim te raptar da estranheza desse mundo cheio de incompreensão...
Eu sei que sou regida pela imaginação e você pela atenção, pelo zelo, pelo carinho.
Eu sei que a esta altura das horas há uma imensidão de sentimentos ai dentro de você...
Eles pulsam e se contorcem em busca de se afirmarem no grande cenário envolto de cenas não tão claras... Eu sei que a vida e ferve e evapora.
Eu sei que não somos tão sólidos e que a nossa liquidez nos apavora, antes mesmo de simplesmente nos aguar...
Eu sei que a água que você bebe é bem mais do algo de sabor indefinido...
Eu sei que você deseja beber tantas outras coisas nessa vida...
Porque a vida se desenrola na cadência meio insana dessa nossa suposta melodia...
Faremos do amor uma música?
Deitaremos de costas pro dia?
Alargaremos a noite, como se fosse estrada sem frio?
Onde eu repouso além do acorde da tua respiração?
Onde despertarei senão nessa fábula tão real que é sentir-se maculada de tudo aquilo que sem escolha inventou para si?...
Nessas palavras dispersas e perdidas, informando de coisas contraditas, entretidas?
Para quê palavras bonitas correndo feito ventania por aí, pelo tudo, pelo sim?...
Para quê qualquer certeza se insisto em estar aqui num abismo meio que comprimido...
Não sei ser de outra forma,
Nao sei me afirmar se não na espontaneidade de um interim sem nexo...
Porque sem nexo sou enfim...

Impaciência

Impacientemente eu aguardo e quando devo ter pressa me atraso.
Teimo em atrasos...
O relógio é quase um inimigo justo para mim que lido com o tempo.
O calendário me desespera.
As horas, os minutos, os segundos, os compassos, os agravos.
Vou ficar aqui no abismo que criei para mim mesma!

Não parece, mas eu erro

Não parece, mas eu também choro quando vou dormir...
Não parece, mas eu também sinto uma dor latejando no meu peito...
Pode até não parecer, porque nem sempre o que parece é...
A aparência diz muito pouco nessa hora.
Há uma profundidade me pontilhando do princípio ao fim.
Eu gostaria de ser mais sensível do que pareço...
Porque há uma coisa em mim que me dói mortalmente: a minha instabilidade.
Eu sou um vento desfavorável.
Sim, as vezes sou feita de caprichos infantis.
Eu cometo erros imperdoáveis.
Eu desaponto.
Parece que quero tudo de uma vez só.
Maltrato. Maltrato-me.
Eis um riso: deixa ele descansar quieto.
Eu fico aqui me abstendo.

As coisas

Será que eu ainda consigo destoar?
Será que eu ainda terei aquela sede absurda de palavras?
Será que haverão brisas para ventilar minhas memórias?
E fogo para incendiar meus desejos?
Será que a estrada pode ser mais curta do que parece?
Será que as coisas são somente o que parecem ser?
Será que as coisas não estariam soprando para longe?
Será que as coisas bastam?
Mas o que são as coisas além de algo que não sabemos definir?...

sexta-feira, março 18, 2011

Vou Voar

Alçar vôo rumo ao indefinido...
Estou sentindo a sombra da noite que teima em ocultar os caminhos...
Nada pressinto além do meu próprio desejo: romper o infinito.
Voar é colocar-se distante do chão da poeira e das coisas ínfimas.
Sempre tive facilidade em fugir do chão, do óbvio, do eficaz.
Feito bandido eu aprecio fugas.
Por isso, vôo.
Vôo para ignorar o chão,
A palavra de certeza,
A patética forma de fixar.
Não almejo isso.
Simpatizo com (des)aparecer.

Eu tenho medo do mar

Eu tenho medo do mar porque não sei nadar.
Eu tenho medo de me afogar, da minha história flutuar.
Eu tenho medo de ter medo de remar...
Eu tenho medo de entrar num barco e ter que remar...
Eu tenho medo de não ter forças para remar...
Eu tenho medo de estagnar...
Tenho medo de tantas coisas...
Tenho medo de dilúvios apocalípticos...
E se minha arca não couber tudo de mim?
São muitas coisas pra reunir.
Tenho medo de perdê-las...
De perder um tanto de mim...
Eu tenho medo de ter sede e não saciá-la.
Eu tenho medo de ter a boca seca e a saliva invejada.
Eu tenho medo de que meu corpo seque e eu me transforme em puro óleo...
Eu tenho medo de me dissolver.
Eu tenho medo de ser mais sólida, mais líquida, mais vapor...
Eu tenho medo de evaporar!

Desértica

Hoje estou desértica.
Qualquer pensamento ou sentimento é fugidio, escapa...
Meu corpo, minha alma e meu coração são pedaços inabitáveis.
Estou quieta, mas não reflexiva.
Estou estranha.
Estou estranhando tudo isso...
Estou me diluindo de impactos!
Porem não mais reclamarei a ausência que me encerra.
Vou do céu ao inferno em milésimos de segundos...
Amanhã tudo poderá estar diferente.
Até se estiver novamente desértica, o estarei de maneira diferente,
Pois minha poeira inclina-se corriqueiramente.
Meu retrato é uma uniformidade impossível.
É um deserto em movimento até quando estar desértico possa talvez ser imóvel.

quarta-feira, março 16, 2011

Disparando...

Vou-me embora viver uma vida lá fora
Quero ultrapassar as portas, escancarar as janelas...
Sei do sal que corre do olho aguado
Da vida insana, do alvo
Da luz e do dia escuro...
Sim, eu sigo, eu ando, eu estranho, eu repito
Num dia eu ensaio um grito
No outro me escondo num ninho...
Todas as noites e dias e ventos e cores
Me deliciarei com os sabores
Os gostos que fluem de ti...
Ah, o tempo, o céu, o desfecho que enceno
Meu olhar sereno ou tenso
Viaja pra perto de ti...
Viaja pra sempre sem fim...
Viaja pra se despedir...
Viaja pra crer no seu sim!

Sem certezas

Volte para os meus braços.
Eles te aguardam acalorados.
Corpo a corpo as almas se encontrarão bandidas.
Gosto de me perder nas formas de encontrar você...
Me fascina o modo como divergimos para convergimo-nos.
Temos a sina de nos sentirmos ligados.
Temos um céu para olhar nos dias de desesperança
E a lua para confortar-nos de nossas dores...
Entretanto, o amor é tão grande pra se diluir na matéria...
E a sua grandeza está no invisível que habita e palpita em nosso peito.
O amor é feito daquilo que só os loucos sabem sentir: a liberdade de desconstruirmo-nos.
Não se engane: o amor não surge para que você se cubra de certezas.
Ao contrário ele nasce para afirmar a vida como algo incalculado e surpreendente.

Sinais

Os sinais não são de fogo.
Não são recados.
Os sinais são temperos que o vento leva e trás
Em conformidade com nossa ânsia de tocá-los.
Os sinais são fomes.
Somos famintos por crer em algo que nos compadeça, que nos redima e nos invista.
Temos sede de nos igualar sem percebermos que as diferenças podem nos unir.
Temos sempre que rivalizar e implodir sentimentos.
E para quê tantos sinais se esquecemos de sinalizar a nós mesmos...

A mediocridade humana.

Hoje me veio à mente mais uma vez o lado pretenso do ser humano.
É nefasto o seu efeito. É cômico o seu pudor.
O homem sabe menos do que pensa e erra mais do que imagina.
Ele se confunde na fragilidade de suas "certezas",
Ele saliva o azedume de uma vida "com" frescuras...
As vezes, parece que a vida é um grande teatro do qual o mundo é palco e nós somos os atores escorregadios...
Escorregamos nesse fingimento legalizado que transformamos nossa relação de espécie!
Te finjo simpatias. Sou boa anfitriã.
No fundo duvido de você como duvido da própria pureza da alma.
Discurso com uma deplorável posse sobre as múltiplas direções das experiências e sensações,
Mas no poço fundo e escuro de mim tudo é tão retilíneo...
O que dizem ser moderno é bem mais do que certas atitudes hipócritas de alguns seres desprovidos de sensibilidade.

A saudade como forma de contradizer

Dizem por aí que a saudade é uma espera inóspita.
Costuma-se crer que ela é dor, que adormece o sonho.
Mas a saudade é companheira do sonho.
A espera é um sinal da ilusão
E o dia que não chega, a pessoa que não se olvida, tudo se embaralha.
E se eu não soubesse sentir saudades só sentiria dor...
A saudade é aquilo que supera a perda.
A saudade é condição para vencer o luto.
A saudade é mais que lembrança...
É o próprio ignorar da ferida.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Pura dor

Nada posso sem ti agora.
A solidão me encerra, fatídica.
Tudo agora é saudade.
Aos meus olhos tudo está vazio.
Longe... Estou longe de tudo que me cerca.
Inconsolável.
Algo me perfurou.
Encontro somente lembranças.
Dói o corpo e a alma e o coração.
Insígnias tuas me percorrem.
Agora só te tenho em pensamentos.
Não estás mais aqui comigo...
Ameaço cair sem ti, mas sei que você me quer forte.

Tudo que foi

Num lugar exótico me deparei com o que há de mais raro.
De nobres delírios aos poucos me consumi.
Aguardava cada sorriso, cada palavra dita.
Eu te olhava e me perdia no universo da imaginação.
Encantava-me as luas que se revelavam no teu olhar.
Eu sentia, mais do que ninguém, a singeleza da tua força.
E assim, toda a tua firmeza sabia descansar livremente no meu colo.
Tudo se misturava, nossas pernas se cruzavam, nossa alma se colava.
Talvez tudo se congele naqueles dias, naquela aventura de te observar e de tentar te compreender.
A cada dia eu sentia ainda mais a imensa vontade de te invadir.
Quando eu te olhava nos olhos tudo era profundo e verdadeiro.
Quando você falava eu parava para te ouvir, para te decifrar.
Eu te devorava dentro de mim. Era alí que tudo se enfeitava perfeitamente.
Guardo cada gesto teu na memória.
Minhas pernas sentem a ausência das tuas.
Meu chão de repente desapareceu...
O mundo que me circunda e aquele outro que me olha de fora não sabe o tamanho do que eu posso sentir aqui dentro de mim...
Todas essas histórias que agora me fazem companhia não me trazem sentido se a tua me acompanha protagonista.
Aquelas lágrimas que facilmente jorraram batizaram-me.
Me agarrei aqueles lençóis para desabar minha sofreguidão mais sincera.
Eu não queria que você tivesse partido.
Sua partida precoce me partiu em fartos pedaços.
E cada ângulo desse lugar me recorda inevitalmente dos teus passos firmes e tão frágeis ao mesmo tempo.
Eu queria te alcançar. Queria me proteger no teu abraço e viver a alegria que você me provoca.
Te encontro em algum lugar da vida. Te quero observar inocente, admirando tua essência.
E para sempre guardarei tua passagem terna pela minha vida.

Sonhos e ruídos

Sonho.
Não sei porque, mas sonho.
É para me aventurar que sonho.
É para merecer a ilusão que insisto nela.
As vezes me dói por dentro o fato de sonhar sem planos.
Tenho uma memória que me dissolve.
Relembro para esquecer. Para velejar;
As horas que me restam são restos ainda caídos de um janeiro disforme e mudo.
Em fevereiro me entreguei aos ruídos ínfimos de minha imaginação.
Solucei: não estava ali... Em nada dali...
Mesmo assim, algo me quis.