quinta-feira, agosto 26, 2010

Sonhos e Lírios

Tenho sonhos, mas já não traço planos.
Quero e sinto o perfume dos lírios.
Mas não quero arrancá-os da terra...
Quero apenas que existam,
Que perfumem poeticamente minh'alma.
Quero tudo quanto posso.
Posso e vivo o que preciso
Com a cor da dor e do riso,
Com o vento,
Com os pássaros e seus ninhos...

Vivo...

Deixei que o vento me indicasse o caminho. 
Procurei não tentar entender os porquês. 
Quis apenas, tão simplesmente viver e sentir tudo.
Não que me baste caminhar, mas na vida é fundamental seguir a estrada de peito aberto e sorriso no rosto. 
Vejo a vida pelo túnel de minh'alma. 
Experimento as horas depositando nelas toda a minha sede de tudo. 
Nada me rompe. Aprendi que os obstáculos fazem parte do caminho.
Sei que existe o sentido, mas para além disso, sei que sempre existirá sentimento!

(Dis)Torção...

Estou insatisfeito, isso é fato! 
Estou quebrado, aos pedaços... 
Tudo me corta, me devora... 
Há uma torção, uma distorção e o que afinal eu desejo tanto que não alcanço? 
Eu não sei... Eu não sei dizer... 
Por enquanto sei apenas sentir essa insatisfação tão latejante! Tão perversa e arredia... 
Só sei sentir o erro de tudo quanto não sou, de tudo quanto não posso ser. 
Porque sei que posso ser várias coisas... 
E isso me torna perdido... 
Perdido dentro de mim mesmo!

Reino noturno

Tenho a lua como companheira
O mar como colo
O céu como telhado
A noite como morada.
Na noite eu reino livre
Sou rainha das horas.

Fado Anacrônico


Estou a ouvir aqueles fados! Aquelas melodiosas canções que para alguns são puro lamento... As vozes regidas daqueles sotaques lusos entoam um canto. A saudade é o tema de predileção. Fechando os olhos, viajamos na inércia das horas e tornamos aquele instante único em nós, dentro de nós. No fado a saudade é como que gritada, dilacerada... A alma parece querer romper em si a urgência do que não se calcula... As violas, os bandolins, tudo se afina na fina chuva de sensações. Os cenários se transpõem na mente. E continuamos melancólicos, poéticos, sensíveis à flor da pele. E as insalubres gotas d’água se escorrem dos olhos sob o descontrole que se apodera em nós. A rua deserta. Já é noite e só os caídos pelas calçadas, exaustos do excesso etílico, nos ouvem ainda que insanos. Nossos sons são rios que correm para o mar. São encontros, fluências... A lua está a enfeitar o céu, no recanto da fotografia. O papel está em cima da mesa de um dos cafés. Temos sede de cafeína, de vinho e de verso. Temos fome de dor, de riso, de difusão. Somos obsessivos pelos agudos da canção, pelos retornos graves das toadas... Vagamos em busca de nós como se assim somássemos algo do que somos em matéria e espírito. Como se assim recuperássemos as horas ornamentais do passado. Como se rompêssemos a própria possibilidade de romper o véu de maia. Porque o que seria dessa nobre vida real se a ela não se juntasse todo o risco da ilusão?

quarta-feira, agosto 18, 2010

Uma cena e um lugar

A menina ao lado chorava.
Não sei quais motivos tinha para isso.
Sei apenas do vento que lhe sabatinava as horas.
Mas não posso concluir que perdia tempo.
Afinal, ela era só uma criança.
E eu aquele ser que só observava aquela cena
Como quem se perde na incapacidade de encaixar-se nela.
Minha cena é nômade.
Meu teatro é bandido.
Meu palco está onde desejar estar minh'alma.

Arisca à certezas

Jasmim.
Flor de macacujá.
Botão de rosa.
Rosa vermelha.
Buquet de impressões.
Conclusões labirínticas,
Ainda que enfeitadas.
As pétalas vão caindo.
O chão vai se enfeitando delas.
E a metade do que eu tinha pra dizer
Já se perdeu no pensamento...
Impossível.
Tudo me foge!
Meus pensamentos me fogem.
Me degolam como aos reis imaginários das tramas literárias.
Deixe eu fugir, como me fogem as palavras!
Deixe que eu continue fugidia.
Arisca à certezas.
Sou melhor quando sou dúvida.
Flores e espinhos atravessam a minha curta história.

Sou feita do instante

Deixe eu permanecer no anonimato.
Meu nome é falso.
Meu lar é imaginário.
Não lute por informações minhas.
Simplesmente escape de mim.
Sou suficientemente patológica para previsão de futuros perfeitos.
Eu sou feita de instantes.
Eu sou o instante do que sinto.
O que sinto em instantes...
Eu sou essa massa de inconstância que já desejou repousar.
Que talvez saiba ser repouso
Mas que ainda não conseguiu ser um pouso para o outro.
Do outro lado nada a dizer.
Tudo a contorcer.
A escapar.
Mas sem escapatória eu escapo.
E as válvulas, quais são?
As válvulas que encapam e já não escapam.
Deixe a ventania me cobrir, porque nenhuma calmaria me será aplicável.
Minha vida é feita de riscos.
Ainda que leves, eles têm o dom de me levar...
Levianos, levitam ao redor.
Só distorcem toda possibilidade de concluir.
E conclusões são sempre chatas!

Um minuto para mais um verso

Ainda há tempo para mais um verso.
Ainda há tempo para dizer o quanto me sinto viva!
O quanto ainda pulso.
Intercalo essas dores ardentes com desejos e sonhos latejantes.
Glorifico esses instantes absurdos que se esvaem por sobre mim,
Dentro de mim...
Eu flutuo para o mundo
E para mim regresso.
Meus versos ainda que toscos erguem meu rústico abrigo.
Tanta coisa lá fora.
Tanta gentileza perecível.
Contudo oro ao tempo. Risco o vento. Provo venenos.
Me fragmento liberta da obrigação de ser um conceito fechado.
E assim essa minha poesia fajuta de angústia científica e cotidiana lava a face.
Grita, porque presa, sufocada já não pode estar.
Já não consegue ficar.

Sentir saudades...

Nunca foi tão mágico e ao mesmo tempo dolorido sentir saudades!
Essa saudade que me corta.
Essa saudade que me rompe.
Essa saudade que se inaugura.
Essa saudade que me faz nascer novamente.
Saudades misturadas em mim.
Alvorecendo em mim.
Saudade partida.
Saudade bem vinda.
Saudade de tudo que foi e não deu tempo ser.
Saudade de tudo que ainda será!

Olhar

Porque seus olhos me buscam com tanta fome?
E porque não chamo de sede isso que eles têm por mim?
Porque não resisto ao brilho incandescente deles?
Porque tudo isso se congelou poeticamente em minha memória?
Magnético gesto, esse de trocar olhares.
De perto, de longe.
Olhar é preciso.
Mais que preciso.
Do teu olhar eu preciso!
No teu olhar eu me enxergo...

Mais uma possível tela

Tormenta.
Vela do barco ao movimento do vento.
A madeira encostando na água.
Parece a paisagem de uma pintura.
O mar vai pintando os trajetos
E os homens esculpindo as coragens!
Louvores camonianos,
Saudades pessoanas...
Descobertas de outrora...
Memórias sempre presentes.
O conquistador à proa.
E a tela se desenhando.
Era só mais uma ilustração.
Logo torres de altos prédios e aviões velozes envolveram a memória tensa dos artistas de nosso tempo!

Ensaios de agosto

Agosto já se ensaia...
Sal à gosto para temperar a vida.
Há um gosto de vida no teu gesto.
Sem gosto é todo riso forçado,
Toda palavra exprimida.
Ensaio em agosto os olhares vindouros de setembro.
Em julho já não sei se desejava agosto.
Mas ele se insinuava.
E o tempo corria.
Porque corriam os dias e o relógio era veloz.
Porque agosto chegou?
Porque se vai?
Entre julho e setembro há agosto!
Há um gosto incomum.
Ponho sal à gosto no prato do dia
Para luas prateadas surgirem redondas e luminosas!
Então que seja agosto à gosto de tudo que pode ser!

Ausências...

Certezas nos cegam, riscos nos inspiram. Ventos nos desviam, sonhos nos aproximam... Há um tudo dentro e fora de nós. Um gesto de nada que nos redime de certas coisas... Muitas palavras para captar sentimentos mínimos. Gritos sussurrados. Escuridão no quarto ao lado, pois já passa da zero hora. Tem um dia incomum pra nascer daqui a pouco. Um certo desassossego que se apodera de nós como da linha... Só o céu anil envolto do lindo dia de sol é capaz de romper em mim. A mania de quase ser... Quase sou dor. Quase sou cor. Quase sou flor. Quase ardor. Deixa tudo ir pelo ralo das angústias. Até a visceral ferida que se abre em mim nesse texto mal feito. Repleto de lacunas. Embriagado do desconexo. O nexo? Para quê mesmo ele tem me servido? Para ser menos poeira desse chão? Ou para ter a consciência de que nele se dissolverá minha pele íngreme? Fala louca, essa de quem não sabe viver... Falta folha, tinta e palavra. Falta algo que não sei. Falta alguém.

Em Labirintos...

Preciso de rotas. 
Preciso de difusão... 
Preciso ofuscar a visão que se tem de mim. 
Ou simplesmente, preciso ignorá-la.
Desejo riscar-me como a uma folha de papel... 
Se for preciso perfurando-a. 
Preciso me colorir ou me despir...
 Me despedir de mim...

As palavras e eu


Eu me perdi um pouco no meio do caminho. 
Eu me perdi dentro de mim. 
E continuo usando as velhas palavras, as mesmas expressões para definir minhas sensações... 
Talvez isso se dê porque as próprias sensações me são antigas, repetitivas... 
Penso ter gestos poéticos, quando simplesmente tomo doses do ridículo. 
Tudo é absolutamente ínfimo. 
Para quê esconder-se por entre as palavras?... 
Fingindo-me no possível encanto delas? 
O que sou eu diante das palavras? 
O que posso querer tão ardentemente nelas? 
Não sei enfeitá-las. 
Não sei sentí-las. 
Não sei ruí-las! 
Nada sei da riqueza das palavras, das idéias, dos pensamentos... 
Sei da miséria de mim... 
Da fragilidade que me percorre... 
Pois é disso que sou feita: do frágil.
E assim eu me quebro... 
Atiro pedras na meu teto de vidro... 
Tudo quebrável aqui... 
Sou uma grande promessa... 
Já não se sabe até que ponto cumprida. 
Não sei mais continuar esse suposto verso... 
Indelicadamente já me perdi na sua ideia... 
Já não domino o que gostaria de dizer. 
Me escapou! 
Me escapou como me escapa o próprio gosto da vida!

Pontos e mais pontos...

Ela tinha muito medo do que poderia sentir. 
Tinha medo daquilo que já estava sentindo pulsar em si.
Tudo é tão estranho.
Tão voraz. 
Caçamos a nós nos pedaços que se colam ou se distanciam. 
Pedaços de cor qualquer. 
Pedaços, apenas pedaços. 
E porque insistir tão ferozmente neles? 
Porque se impregnar da angústia das horas irreais? 
Porque permanecer tão abstrato, tão lúdico?
Tudo é tão misturado nas correntes sanguíneas que se escorrem dentro de mim... 
Por quantas vezes desejei tão pouco! 
Por tantas vidas perambularei nessa busca insólita ainda que desejosa de mim? 
Mas isso seria se eu acreditasse na variedade de vidas... 
Se crer num outro futuro carnal possível fosse fácil para mim... 
Então que eu me mova, enquanto carne ainda for.
Meu espírito, que ele não se guarde, mas que seja algo de tudo quanto pode ser.