terça-feira, dezembro 31, 2013

Ciclo

Quanta coisa a gente aprendeu neste ciclo.
O que foi bom cultivaremos, o que não foi nos servirá de aprendizado.
Cada vez mais respiro uma liberdade que nunca tive.
O sabor da vida encosta cada vez mais leve em minha boca.
A melhor coisa de "desparecer" é olhar para si mesmo uma vez sequer...
Quantas pessoas descobrimos e quantas novidades nos foi possível viver?
Ah! Tantas...
E as velhas novas coisas e questões?
Estas existem e sempre existirão.
Ninguém recolhe pedras do caminho, apenas as transformamos.
O poder de resignificá-las destoa seu sentido oculto e lhe dá novo lugar na estrada.
Estar de mãos dadas com o amor me abriu os olhos para a vida.
Agora eu a vivo sem medo e mais do a qualquer um, eu sei que tenho a mim.
Isto não é um tratado individualista.
É um aprendizado que nos últimos anos se condensa incansavelmente.

sábado, dezembro 28, 2013

Tratado de economia

Eu vivo uma economia de palavras.
Limito-as somente à algumas pessoas.
Só observo a publicação dos sentimentos - inventados ou não.
Duas ou três palavras somadas, já formam uma ideia.
Alguns se "restringem", outros se camuflam.
Prefiro economizar palavras, repito.
E não, sentimentos!
Estes, eu sinto à vontade.


Zelo

Eu gosto é dessa sua simplicidade, da sua mente veloz e do seu jeito agregador.
Eu gosto dos seus lábios macios e sua voz dengosa.
Eu gosto até do seu "leve" mau humor irônico e deslizante...
Aquele que não se demora quando faço uma piada...
Eu gosto dessa nossa verdade límpida e inconteste.
Seja como for, a vida é breve e nos avassala.
Você, com sua personalidade leonina, me avisa:
"Não esqueça de esquecer tudo que não vale à pena
e veja sentido apenas naquilo que realmente o tem".

Sem mais. Não há poeira naquilo que zelamos.

Esconderijo

Se você quiser um rio, pode navegar em mim.
Se tiver medo, pode esconder-se no meu abraço.
Se tiver sede, beije-me.
Se quiser fugir, leve-me contigo.
Vamos dar um tempo por aqui.
O cotidiano pesa e alma é leve, quer voar.
Ter a consciência de que tenho as linhas do teu rosto de frente para mim quando desperto cedo pela manhã é um alívio e um estímulo.
Vamos cantar.
O vento nos trará novas formas de sentir e o afeto nos afetará.
O amor não existe, ele persiste.
A consciência de persistir é o que o mantém vivo.
E assim, nos mantemos nele e ele em nós para que naveguemos, não tenhamos medo e matemos nossa sede.
Não precisamos fugir, já estamos um no outro.
Temos nosso próprio esconderijo.

quarta-feira, dezembro 25, 2013

Que mundo é este?

Não demore, more comigo.
Não chore, comemore.
Vamos comer o mundo, baby!
Degluti-lo. Infiltrar-mo-nos nele.
Digeri-lo, mastigando-o lentamente.
Destruindo-o, aos poucos.
Vamos criar um outro mundo.
Um novo mundo.
Um mundo de um novo jeito.
Um jeito novo de dominá-lo, vivê-lo, sê-lo.
Vamos ser metade a metade a verdade singular desse mundo.
Não decore, encare isso como um corte.
Devore-me. Funde um latifúndio em mim.
Tome posse, despossua qualquer coisa nesse mundo.
Faça de mim, a sua nova possessão.
O seu novo mundo.
Use e abuse. Comande sem medidas.

Uma família

O que temos para o jantar?
Frango com batatas e algumas lembranças.
Àquelas de quando éramos só uma ideia.
Àquelas de quando éramos só um sentimento nutrido pela distância.
Àquelas de quando éramos só palavras.
Àquelas de quando éramos um desejo, uma ânsia, uma vontade ou mesmo um sonho.
O que temos para os próximos dias?
Uma só vida, num só tempo, numa mesma frequência.
Uma gana de continuar tudo o que iniciamos.
A permanente luta para não nos esquecermos por um minuto sequer.
Poucos entendem a poesia desse cálculo, mas quem falou que precisam entendê-lo?
Apenas a nós isto tudo interessa.
Um lar: foi isto que erguemos, aos poucos, num mar de desconfiança alheia.
Ignorando as razões dos outros, construímos a nossa própria lógica: somos uma família.

Vamos

Meu pensamento branco me isola e se isola em automático.
Que eu convalesça.
Que eu pene nas trilhas desconhecidas do mundo.
Que eu tenha a chance de sentir na pele os efeitos de tudo isso.
De tudo que crio, invento, pacifico.
Que eu me destrua num ato violento no seio dos dizeres mais profundos!
Que eu corra em alta velocidade e esbarre numa imagem minha em alto relevo...
Meu rosto branco amarelado e vilão se esfacelará.
Quero me colorir de vermelho púrpura.
Partir quebrando-me, sentindo a dor de minhas ideias e a fúria que elas provocam.
Vamos todos morrer dessas nossas entediantes diferenças.
Vamos substituir padrões e impor novos modelos.
Vamos assumir o que somos sem ter qualquer vergonha e encarcerar os promotores dessa histórica perseguição.
Vamos acorrentar os verdadeiros culpados.
Vamos fingir que somos o que não somos para passarmos melhor.
Vamos forjar novas perfeições.
Vamos instituir novos exércitos de certezas e punir aqueles que romperem a "nova ordem".
Vamos, vamos, vamos!
Temos pressa em confundir as identidades!
Confusas, elas cederão mais rapidamente.

Pensei que estávamos querendo a mesma coisa, mas não, a maioria quer somente um choque - momentâneo e irresponsável.

Realidade inventada

Eu vou escrever sobre o que vejo.
Eu vejo por dentro do corpo.
Eu vejo um rio onde há sangue correndo.
Eu vejo superfície onde há pele.
Eu vejo terra onde vêem a carne humana.
Eu vejo em nós o planeta.
Nos meus olhos verdes-castanhos vejo as cores da floresta.
Nas palmas de minhas mãos, vejo estradas e mais estradas.
Eu meus pelos, a mata rasteira ou fechada.
Em minha cabeça o centro do mundo: os meus pensamentos.
Lá, que eu me abandone e descanse.
Um dia eu sei que o pensamento não será mais aflitivo.
Mas, quando assim deixar de ser, sei que já não estarei aqui nos braços dessa realidade inventada.

Heróis e futuros

Meus heróis, empurrei-os numa gaveta velha.
Quero que durmam lá por um bom tempo.
Que morram. Que emudeçam.
Saibam: não os estou guardando!
Ao contrário, é só uma forma de exorcizá-los!
Basta! Basta de tantos idólatras!
De tanta ânsia para que o outro conserte sua vida e sua realidade...
Há uma preguiça generalizada por aí.
Grita o mundo, geme a criança com fome, solta a voz o artista pop,
Rosna o juiz, mente o líder político, some a promessa.
Um céu cinza com uma lua branca e sem brilho, esta imagem amedronta nosso futuro.

Eles postam

Eles postam desejos, eu não sei se verdadeiros.
Eles postam pistas, eu me desvio delas.
Eles postam críticas, nem sempre acho dignas.
Eles postam solidão, muitas vezes sem razão.

Eles não temem parecer ridículos.
Eles mal usam vírgulas em seus grifos...

Eles atualizam o perfil enquanto ouço um velho vinil.
Eles curtem fotos enquanto eu solto fogos.
Eles comentam status enquanto olho do lado.
Eles compartilham ideias que nem sempre concordam....

Eles engolem palavras e maquilam sentimentos.
É uma face, um livro, uma (i)realidade.

Feliz Natal em fins de 2013

Há 2013 anos, no mais profundo deste calendário imaginário alguém ou alguma ideia irrompeu sobre o mundo de maneira devastadora. Ainda não sabemos sua cor e nem os detalhes mais precisos de sua história... Sabemos apenas, que nasceu em um cenário inusitado e emprestou aos corações algo de esperança e ventania. Foi Jesus? Não sei. Não domino seu nome nem sua história. Não sei de onde veio nem para onde vai, ainda não o alcancei por meio de uma fé cristalina e inabalável. Sou um tanto cética e, para piorar, sou transgressão...
Hoje na sala, está montada uma árvore na forma de um pinheiro, repleta de enfeites e presentes embalados ao seu redor. Hoje, haverá uma ceia com panetones, rocamboles, perus, vinho dentre outros. É uma forma de celebrar, confraternizar. Há, inclusive um velhinho oriundo do mais gélido leste europeu pairando pelos trópicos brasileiros para nos lembrar quão válidos são uns belos goles de coca-cola neste calor avassalador...
Como assim? Não falávamos de Jesus, o menino salvador, o messias cristão? Em tempos de Noel, meus caros, Jesus é coadjuvante. Não, que eu ame as religiões e suas ortodoxias, seus dogmas e suas histórias com roteiros tão escapatórios, mas o espírito natalino - aquele que preza pela partilha e festejo da renovação de esperanças por um novo mundo/ano - transformou-se num oportuno encontro com as compras e seus significados pueris.
O que valerá à pena, quando a alma não for pequena? - parafraseando Fernando Pessoa.
Saberei menos responder do que indagar. Que o espírito, os presentes ou o simples gesto de estar com quem se ama possa valer a pena. O valor, neste caso é um sentido. Apenas.


Feliz Natal.

Os humanos e suas certezas

Os humanos e suas certezas tão quebráveis quanto os vidros da janela!...
O que fazer diante desse impasse?
Quis somente dizer que para sentir essa "certeza" é preciso tê-la em algum lugar que não seja esse hoje mutável. Tudo muda, até a sua ideia mais "intocável".