terça-feira, abril 27, 2010

Destoar...

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Até quando será preciso destoar?
Até quando destoar será preciso e ao mesmo tempo falho?
Até quando as palavras destoarão?
Serão sinônimos de venenos...
Serão feras à espreita de presas?
Destoar é sempre preciso.
Eu preciso destoar para viver...
Pois destoar já é quase respirar...
E se tenho palavra, tenho também ar...
E se tenho palavras e ar: tenho vida!

De uma carta


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E assim, sigo crendo na beleza dos dias. Só isso. Creio na beleza interna das pessoas. Na beleza silenciosa que se denuncia nas atitudes mais singelas. Creio em tantas coisas... Tenho tantos sonhos... Vejo tantos horizontes. É preciso saber viver e sentir... É preciso considerar todas as visões sobre todas as coisas... É preciso pulsar a alma, antes de pulsar o peito... É tão bom o gosto do amor, o gosto da palavra, a doçura e a grandeza dos sentimentos.
Acho que comecei a devanear... Não estranhe esse descaminho que se denuncia ser o meu trato com as palavras. Ultimamente, as palavras têm me escapado. E é tão difícil a tarefa de dominá-las... Elas são independentes... Temperamentais, talvez... Mas apesar da aparente contradição ou fuga, elas seguem para algum lugar. E assim, espero que toda palavra bela e verdadeira que sair de mim consiga alcançar de algum modo a nobreza de seu coração.

O real

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Te convido a desafiar os modelos de real que existem por aí.
Vamos ver o mundo pela lente "turva" da transgressão...

Sobre o tempo - IV

Tenho compulsão por atrasar as horas.
Por naturalmente ignorar o tempo outorgado.

Sobre o tempo - III

Eu sempre acho que preciso de mais tempo...
Muito embora, em certos momentos eu não suporte
o seu excesso de demora...

Sobre o tempo - II

Hoje eu queria ter feito tudo mais devagar.
Por esse motivo acordo tarde.
Para que sozinha eu desfrute da liberdade de atrasar-me!...

Sobre o tempo - I

Eu não acho que demorar-se lavando o rosto enquanto se indaga sobre o sentido da vida seja uma atitude de desperdício do tempo. Eu creio na poesia que estaciona os relógios!...

sábado, abril 17, 2010

Degredo do ser

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Enquanto há quem pegue aviões ou foguetes,
Eu continuo nas caravelas...
Em caravelas tão anacrônicas quanto a minha própria existência.
Eu: esse passo errado no caminho do mundo!
Eu: esse espinho que perfura as rosas...
Eu: essa fonte de água salgada!
Eu: essa palavra perdida no meio de tantas ações!
O que eu sou afinal?
Sou sempre essa rasura...
Essa tela disforme...
Esse veneno...
Aquele fruto estragado narrado nas fábulas...
Eu nada sou...

terça-feira, abril 06, 2010

FANATISMO (Florbela Espanca)

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”

Florbela Espanca - Livro de Soror Saudade

domingo, abril 04, 2010

Lapso

Eu sempre me perco no meio de uma ideia...
Repentinamente tudo se dilacera
Vira pó
Pedaço...
De súbito me falha a concentração
O instante inspirador
E rapidamente, sem que eu possa evitar
tudo foge...
E continuando no esforço de escrever
Eu acabo terminando com outra ideia...
Outro pensamento...
E tudo se resulta involuntariamente disperso...
Fugidio...
A mente falha
Se degreda em lapsos
Lapsos incontroláveis...

Inspiração

Eu poderia ter escrito coisas melhores ontem
Mas as palavras me escaparam...
Somadas aos delírios imaginativos elas romperam
o papel...
A caneta não acompanhava o ritmo do pensamento
E então tudo se perdeu...
Fugiu o verso possivelmente belo
Fugiu a estrofe incomum
Fugiu uma melodia harmônica
Fugiu tudo...
Fugiu e não é fácil um reencontro.
É preciso quebrar a inércia da mente
A dificuldade de tornar palavra aquela sensação,
Aquela inspiração repentina...
Sentir-se inspirado é tão raro.
É como uma invasão de sensações...
É indiscritível...
Não elaborado...
É arrebatador
E singular
É um momento distinto de tudo dentro de si...
É um estado particular do ser...
A inspiração antes de ser um rumo,
É uma dispersão...
Uma bela dispersão poética...
Por isso ela se perde,
Por isso vive perdida...
Por isso escapa...
Por isso é tão raro encontrá-la
Dominá-la
Tomá-la para si de modo irremediável.

Cansaço

Noite de eternos cansaços
Debruçados, enlaçados
Seguindo compassos
Passo a passo...
Desesperado
Prende o laço
Cega o espaço
Trilhas de aço
Face de palhaço...
Nada se explica
Tudo se multiplica
Enveredando as trajetórias
As histórias
As discórdias...
Porque há um cansaço disforme
Uma forma de medo
Uma sombra no tempo
Um resto de algo difuso...