quinta-feira, março 31, 2011

Detalhando...


Detalhes: essas coisinhas miúdas que nós temos.
Que nós criamos.
Coisas para nos devorarmos.
Para nos decifrarmos.
Silenciarmos ou esbravejarmos.
Detalhe por detalhe eu conquisto o infinito.
Seja lá onde for, tudo se reparte para tornar-se inteiro.
Contradições.
Detalhes.
Detalhar.
Estar assim: nos mínimos detalhes

Canções e velhas coisas


Melodias para me fazer viajar...
Canções dissonantes... Velozes... Furiosas...
Canções-conceitos...
Canções, delírios.
Música para entorpecer a vida
Penetrar nos ouvidos
Rasgar a alma
Consolar o coração
Enfurecer as raivas
Desabafar as tristezas...
Canções para cantar o mundo, a vida e a felicidade.
Trilha para embalar nostalgias.
Sons perfurando sentimentalidades.
Caminhos melódicos para dizer tantas coisas...
Ah! Guitarras, flautas...
Cordas, sopros...
Sussurros, palavras desencontradas encontrando o alheio.
O vento leva para longe a palavra cantada.
Sim, os acordes, partituras, os vinhos
Tudo está no outro.
Tudo vai ao outro.
Tudo vai ao outro para enfim me alcançar.
Tudo longínquo para eu delirar e me inspirar de novos dizeres para falar de velhas coisas!

Como um pedaço do mundo...


Quero ser capaz de romper minhas dores estranhas.
Tenho ânsias.
Sou composta de ausências.
Acompanho-me do imprevisível.
Às vezes vôo.
Quando dou por mim já estou distante...
Possuo o dom de me perder dentro de mim mesma.
Aqui, nesses meus pensamentos, nesse meu coração embalsamado, tudo é labiríntico.
Não adianta fingir, dar forma, desenhar sanidades...
É louco reconhecer, mas sei que sou pedaço.
Pedaço do mundo.
Pedaço daquilo que se pode supor.
Pedaço do que poderia deixar para trás.
A vida é um pedaço.
A vida é um tudo dentro de mim.
Eu sou metade de mim aqui dentro.
Eu serei sempre tantas coisas que não resultarei em nada.
Não concretizo uma idéia de mim.
Minha matéria é imaterial demais.
Minha difusão sucumbe uma possível definição.

Constatação


Todas as horas sem você são vazias
Porque o meu dia só é realmente completo com você.
Você protagoniza em minha história.
É meu doce encanto. Minha tradução de pureza.
É o meu encontro com a sutileza das formas do mundo.
Com as rotas indefiníveis do destino.
Com o brilho exacerbado do olhar.
Tudo com você é absolutamente especial e único.
Sou hoje, um resultado do toque de tuas grandezas em mim.

Uma nova forma de sentir


Quero uma nova forma de sentir.
Uma nova maneira de me sentir vivo.
Quero me perder entre o volume invisível do vento
Respirar essências distintas
Delirar com o brilho dos olhos desconhecidos...
Quero uma paz tempestuosa
Um devaneio febril
Sobreviver aos temporais
Ignorar os perigos
Desconhecer a tudo
Para me conhecer mais profundo.

Não quero a chave do destino.
Minha estrada é difusa.

quarta-feira, março 30, 2011

Entranha perfeição

Vamos caminhar nos campos onde repousam nossas insatisfações.
Lá uma terapia da destruição silenciosa se perpetuará.
As vezes queremos correr desesperadamente dentro de nós...
Nos percorrermos...
Nos aventurarmos no extravasamento de nossas sensações mais insólitas...
Por vezes necessitamos de um comportamento absurdo para nos vestirmos dele.
Desejamos quebrar a cara em um muro alto.
Passo a passo expressando as nossas formas mais desagradáveis.
Queremos sangrar, é fato.
Queremos nos bater para nos aliviar das culpas que carregamos conosco...
Queremos chorar ao berros.
Queremos parar de termos que nos controlar.
E só incontrolados nos encontraremos com nossas mais sujas ideias!
Ah, ser perfeito é a condição para se sentir vazio.
Até para sentirmos nossas dores e sofrermos em paz, temos que nos esconder...
Estranho isso de termos que nos trancar num quarto para derramarmos longe do mundo as lágrimas de nossa mais incompreendida verdade...

Quietude

Eu me reinventei para me aproximar de mim...
Sigo sufocando alguns gritos
Quase sempre silenciando...
Percebi que o barulho é uma sonoridade complexa...
As vezes calar é compreender um limite que realmente existe na vida.
A forma de quietude é intranquila.
Tenho um discurso para proferir.
Mas há hora para tudo.
Deixe estar...
Seguiremos, talvez não totalmente aniquilados...

terça-feira, março 29, 2011

Textualizando sentimentos

As vezes o céu invade a janela e me permite sentir a sua cor se aproximando...
É uma sensação direfente, essa de tocar o azul em infinitas distâncias...
As vezes parece que o tempo vai congelar
e que assim eu poderei enfim te raptar da estranheza desse mundo cheio de incompreensão...
Eu sei que sou regida pela imaginação e você pela atenção, pelo zelo, pelo carinho.
Eu sei que a esta altura das horas há uma imensidão de sentimentos ai dentro de você...
Eles pulsam e se contorcem em busca de se afirmarem no grande cenário envolto de cenas não tão claras... Eu sei que a vida e ferve e evapora.
Eu sei que não somos tão sólidos e que a nossa liquidez nos apavora, antes mesmo de simplesmente nos aguar...
Eu sei que a água que você bebe é bem mais do algo de sabor indefinido...
Eu sei que você deseja beber tantas outras coisas nessa vida...
Porque a vida se desenrola na cadência meio insana dessa nossa suposta melodia...
Faremos do amor uma música?
Deitaremos de costas pro dia?
Alargaremos a noite, como se fosse estrada sem frio?
Onde eu repouso além do acorde da tua respiração?
Onde despertarei senão nessa fábula tão real que é sentir-se maculada de tudo aquilo que sem escolha inventou para si?...
Nessas palavras dispersas e perdidas, informando de coisas contraditas, entretidas?
Para quê palavras bonitas correndo feito ventania por aí, pelo tudo, pelo sim?...
Para quê qualquer certeza se insisto em estar aqui num abismo meio que comprimido...
Não sei ser de outra forma,
Nao sei me afirmar se não na espontaneidade de um interim sem nexo...
Porque sem nexo sou enfim...

Impaciência

Impacientemente eu aguardo e quando devo ter pressa me atraso.
Teimo em atrasos...
O relógio é quase um inimigo justo para mim que lido com o tempo.
O calendário me desespera.
As horas, os minutos, os segundos, os compassos, os agravos.
Vou ficar aqui no abismo que criei para mim mesma!

Não parece, mas eu erro

Não parece, mas eu também choro quando vou dormir...
Não parece, mas eu também sinto uma dor latejando no meu peito...
Pode até não parecer, porque nem sempre o que parece é...
A aparência diz muito pouco nessa hora.
Há uma profundidade me pontilhando do princípio ao fim.
Eu gostaria de ser mais sensível do que pareço...
Porque há uma coisa em mim que me dói mortalmente: a minha instabilidade.
Eu sou um vento desfavorável.
Sim, as vezes sou feita de caprichos infantis.
Eu cometo erros imperdoáveis.
Eu desaponto.
Parece que quero tudo de uma vez só.
Maltrato. Maltrato-me.
Eis um riso: deixa ele descansar quieto.
Eu fico aqui me abstendo.

As coisas

Será que eu ainda consigo destoar?
Será que eu ainda terei aquela sede absurda de palavras?
Será que haverão brisas para ventilar minhas memórias?
E fogo para incendiar meus desejos?
Será que a estrada pode ser mais curta do que parece?
Será que as coisas são somente o que parecem ser?
Será que as coisas não estariam soprando para longe?
Será que as coisas bastam?
Mas o que são as coisas além de algo que não sabemos definir?...

sexta-feira, março 18, 2011

Vou Voar

Alçar vôo rumo ao indefinido...
Estou sentindo a sombra da noite que teima em ocultar os caminhos...
Nada pressinto além do meu próprio desejo: romper o infinito.
Voar é colocar-se distante do chão da poeira e das coisas ínfimas.
Sempre tive facilidade em fugir do chão, do óbvio, do eficaz.
Feito bandido eu aprecio fugas.
Por isso, vôo.
Vôo para ignorar o chão,
A palavra de certeza,
A patética forma de fixar.
Não almejo isso.
Simpatizo com (des)aparecer.

Eu tenho medo do mar

Eu tenho medo do mar porque não sei nadar.
Eu tenho medo de me afogar, da minha história flutuar.
Eu tenho medo de ter medo de remar...
Eu tenho medo de entrar num barco e ter que remar...
Eu tenho medo de não ter forças para remar...
Eu tenho medo de estagnar...
Tenho medo de tantas coisas...
Tenho medo de dilúvios apocalípticos...
E se minha arca não couber tudo de mim?
São muitas coisas pra reunir.
Tenho medo de perdê-las...
De perder um tanto de mim...
Eu tenho medo de ter sede e não saciá-la.
Eu tenho medo de ter a boca seca e a saliva invejada.
Eu tenho medo de que meu corpo seque e eu me transforme em puro óleo...
Eu tenho medo de me dissolver.
Eu tenho medo de ser mais sólida, mais líquida, mais vapor...
Eu tenho medo de evaporar!

Desértica

Hoje estou desértica.
Qualquer pensamento ou sentimento é fugidio, escapa...
Meu corpo, minha alma e meu coração são pedaços inabitáveis.
Estou quieta, mas não reflexiva.
Estou estranha.
Estou estranhando tudo isso...
Estou me diluindo de impactos!
Porem não mais reclamarei a ausência que me encerra.
Vou do céu ao inferno em milésimos de segundos...
Amanhã tudo poderá estar diferente.
Até se estiver novamente desértica, o estarei de maneira diferente,
Pois minha poeira inclina-se corriqueiramente.
Meu retrato é uma uniformidade impossível.
É um deserto em movimento até quando estar desértico possa talvez ser imóvel.

quarta-feira, março 16, 2011

Disparando...

Vou-me embora viver uma vida lá fora
Quero ultrapassar as portas, escancarar as janelas...
Sei do sal que corre do olho aguado
Da vida insana, do alvo
Da luz e do dia escuro...
Sim, eu sigo, eu ando, eu estranho, eu repito
Num dia eu ensaio um grito
No outro me escondo num ninho...
Todas as noites e dias e ventos e cores
Me deliciarei com os sabores
Os gostos que fluem de ti...
Ah, o tempo, o céu, o desfecho que enceno
Meu olhar sereno ou tenso
Viaja pra perto de ti...
Viaja pra sempre sem fim...
Viaja pra se despedir...
Viaja pra crer no seu sim!

Sem certezas

Volte para os meus braços.
Eles te aguardam acalorados.
Corpo a corpo as almas se encontrarão bandidas.
Gosto de me perder nas formas de encontrar você...
Me fascina o modo como divergimos para convergimo-nos.
Temos a sina de nos sentirmos ligados.
Temos um céu para olhar nos dias de desesperança
E a lua para confortar-nos de nossas dores...
Entretanto, o amor é tão grande pra se diluir na matéria...
E a sua grandeza está no invisível que habita e palpita em nosso peito.
O amor é feito daquilo que só os loucos sabem sentir: a liberdade de desconstruirmo-nos.
Não se engane: o amor não surge para que você se cubra de certezas.
Ao contrário ele nasce para afirmar a vida como algo incalculado e surpreendente.

Sinais

Os sinais não são de fogo.
Não são recados.
Os sinais são temperos que o vento leva e trás
Em conformidade com nossa ânsia de tocá-los.
Os sinais são fomes.
Somos famintos por crer em algo que nos compadeça, que nos redima e nos invista.
Temos sede de nos igualar sem percebermos que as diferenças podem nos unir.
Temos sempre que rivalizar e implodir sentimentos.
E para quê tantos sinais se esquecemos de sinalizar a nós mesmos...

A mediocridade humana.

Hoje me veio à mente mais uma vez o lado pretenso do ser humano.
É nefasto o seu efeito. É cômico o seu pudor.
O homem sabe menos do que pensa e erra mais do que imagina.
Ele se confunde na fragilidade de suas "certezas",
Ele saliva o azedume de uma vida "com" frescuras...
As vezes, parece que a vida é um grande teatro do qual o mundo é palco e nós somos os atores escorregadios...
Escorregamos nesse fingimento legalizado que transformamos nossa relação de espécie!
Te finjo simpatias. Sou boa anfitriã.
No fundo duvido de você como duvido da própria pureza da alma.
Discurso com uma deplorável posse sobre as múltiplas direções das experiências e sensações,
Mas no poço fundo e escuro de mim tudo é tão retilíneo...
O que dizem ser moderno é bem mais do que certas atitudes hipócritas de alguns seres desprovidos de sensibilidade.

A saudade como forma de contradizer

Dizem por aí que a saudade é uma espera inóspita.
Costuma-se crer que ela é dor, que adormece o sonho.
Mas a saudade é companheira do sonho.
A espera é um sinal da ilusão
E o dia que não chega, a pessoa que não se olvida, tudo se embaralha.
E se eu não soubesse sentir saudades só sentiria dor...
A saudade é aquilo que supera a perda.
A saudade é condição para vencer o luto.
A saudade é mais que lembrança...
É o próprio ignorar da ferida.