terça-feira, dezembro 31, 2013

Ciclo

Quanta coisa a gente aprendeu neste ciclo.
O que foi bom cultivaremos, o que não foi nos servirá de aprendizado.
Cada vez mais respiro uma liberdade que nunca tive.
O sabor da vida encosta cada vez mais leve em minha boca.
A melhor coisa de "desparecer" é olhar para si mesmo uma vez sequer...
Quantas pessoas descobrimos e quantas novidades nos foi possível viver?
Ah! Tantas...
E as velhas novas coisas e questões?
Estas existem e sempre existirão.
Ninguém recolhe pedras do caminho, apenas as transformamos.
O poder de resignificá-las destoa seu sentido oculto e lhe dá novo lugar na estrada.
Estar de mãos dadas com o amor me abriu os olhos para a vida.
Agora eu a vivo sem medo e mais do a qualquer um, eu sei que tenho a mim.
Isto não é um tratado individualista.
É um aprendizado que nos últimos anos se condensa incansavelmente.

sábado, dezembro 28, 2013

Tratado de economia

Eu vivo uma economia de palavras.
Limito-as somente à algumas pessoas.
Só observo a publicação dos sentimentos - inventados ou não.
Duas ou três palavras somadas, já formam uma ideia.
Alguns se "restringem", outros se camuflam.
Prefiro economizar palavras, repito.
E não, sentimentos!
Estes, eu sinto à vontade.


Zelo

Eu gosto é dessa sua simplicidade, da sua mente veloz e do seu jeito agregador.
Eu gosto dos seus lábios macios e sua voz dengosa.
Eu gosto até do seu "leve" mau humor irônico e deslizante...
Aquele que não se demora quando faço uma piada...
Eu gosto dessa nossa verdade límpida e inconteste.
Seja como for, a vida é breve e nos avassala.
Você, com sua personalidade leonina, me avisa:
"Não esqueça de esquecer tudo que não vale à pena
e veja sentido apenas naquilo que realmente o tem".

Sem mais. Não há poeira naquilo que zelamos.

Esconderijo

Se você quiser um rio, pode navegar em mim.
Se tiver medo, pode esconder-se no meu abraço.
Se tiver sede, beije-me.
Se quiser fugir, leve-me contigo.
Vamos dar um tempo por aqui.
O cotidiano pesa e alma é leve, quer voar.
Ter a consciência de que tenho as linhas do teu rosto de frente para mim quando desperto cedo pela manhã é um alívio e um estímulo.
Vamos cantar.
O vento nos trará novas formas de sentir e o afeto nos afetará.
O amor não existe, ele persiste.
A consciência de persistir é o que o mantém vivo.
E assim, nos mantemos nele e ele em nós para que naveguemos, não tenhamos medo e matemos nossa sede.
Não precisamos fugir, já estamos um no outro.
Temos nosso próprio esconderijo.

quarta-feira, dezembro 25, 2013

Que mundo é este?

Não demore, more comigo.
Não chore, comemore.
Vamos comer o mundo, baby!
Degluti-lo. Infiltrar-mo-nos nele.
Digeri-lo, mastigando-o lentamente.
Destruindo-o, aos poucos.
Vamos criar um outro mundo.
Um novo mundo.
Um mundo de um novo jeito.
Um jeito novo de dominá-lo, vivê-lo, sê-lo.
Vamos ser metade a metade a verdade singular desse mundo.
Não decore, encare isso como um corte.
Devore-me. Funde um latifúndio em mim.
Tome posse, despossua qualquer coisa nesse mundo.
Faça de mim, a sua nova possessão.
O seu novo mundo.
Use e abuse. Comande sem medidas.

Uma família

O que temos para o jantar?
Frango com batatas e algumas lembranças.
Àquelas de quando éramos só uma ideia.
Àquelas de quando éramos só um sentimento nutrido pela distância.
Àquelas de quando éramos só palavras.
Àquelas de quando éramos um desejo, uma ânsia, uma vontade ou mesmo um sonho.
O que temos para os próximos dias?
Uma só vida, num só tempo, numa mesma frequência.
Uma gana de continuar tudo o que iniciamos.
A permanente luta para não nos esquecermos por um minuto sequer.
Poucos entendem a poesia desse cálculo, mas quem falou que precisam entendê-lo?
Apenas a nós isto tudo interessa.
Um lar: foi isto que erguemos, aos poucos, num mar de desconfiança alheia.
Ignorando as razões dos outros, construímos a nossa própria lógica: somos uma família.

Vamos

Meu pensamento branco me isola e se isola em automático.
Que eu convalesça.
Que eu pene nas trilhas desconhecidas do mundo.
Que eu tenha a chance de sentir na pele os efeitos de tudo isso.
De tudo que crio, invento, pacifico.
Que eu me destrua num ato violento no seio dos dizeres mais profundos!
Que eu corra em alta velocidade e esbarre numa imagem minha em alto relevo...
Meu rosto branco amarelado e vilão se esfacelará.
Quero me colorir de vermelho púrpura.
Partir quebrando-me, sentindo a dor de minhas ideias e a fúria que elas provocam.
Vamos todos morrer dessas nossas entediantes diferenças.
Vamos substituir padrões e impor novos modelos.
Vamos assumir o que somos sem ter qualquer vergonha e encarcerar os promotores dessa histórica perseguição.
Vamos acorrentar os verdadeiros culpados.
Vamos fingir que somos o que não somos para passarmos melhor.
Vamos forjar novas perfeições.
Vamos instituir novos exércitos de certezas e punir aqueles que romperem a "nova ordem".
Vamos, vamos, vamos!
Temos pressa em confundir as identidades!
Confusas, elas cederão mais rapidamente.

Pensei que estávamos querendo a mesma coisa, mas não, a maioria quer somente um choque - momentâneo e irresponsável.

Realidade inventada

Eu vou escrever sobre o que vejo.
Eu vejo por dentro do corpo.
Eu vejo um rio onde há sangue correndo.
Eu vejo superfície onde há pele.
Eu vejo terra onde vêem a carne humana.
Eu vejo em nós o planeta.
Nos meus olhos verdes-castanhos vejo as cores da floresta.
Nas palmas de minhas mãos, vejo estradas e mais estradas.
Eu meus pelos, a mata rasteira ou fechada.
Em minha cabeça o centro do mundo: os meus pensamentos.
Lá, que eu me abandone e descanse.
Um dia eu sei que o pensamento não será mais aflitivo.
Mas, quando assim deixar de ser, sei que já não estarei aqui nos braços dessa realidade inventada.

Heróis e futuros

Meus heróis, empurrei-os numa gaveta velha.
Quero que durmam lá por um bom tempo.
Que morram. Que emudeçam.
Saibam: não os estou guardando!
Ao contrário, é só uma forma de exorcizá-los!
Basta! Basta de tantos idólatras!
De tanta ânsia para que o outro conserte sua vida e sua realidade...
Há uma preguiça generalizada por aí.
Grita o mundo, geme a criança com fome, solta a voz o artista pop,
Rosna o juiz, mente o líder político, some a promessa.
Um céu cinza com uma lua branca e sem brilho, esta imagem amedronta nosso futuro.

Eles postam

Eles postam desejos, eu não sei se verdadeiros.
Eles postam pistas, eu me desvio delas.
Eles postam críticas, nem sempre acho dignas.
Eles postam solidão, muitas vezes sem razão.

Eles não temem parecer ridículos.
Eles mal usam vírgulas em seus grifos...

Eles atualizam o perfil enquanto ouço um velho vinil.
Eles curtem fotos enquanto eu solto fogos.
Eles comentam status enquanto olho do lado.
Eles compartilham ideias que nem sempre concordam....

Eles engolem palavras e maquilam sentimentos.
É uma face, um livro, uma (i)realidade.

Feliz Natal em fins de 2013

Há 2013 anos, no mais profundo deste calendário imaginário alguém ou alguma ideia irrompeu sobre o mundo de maneira devastadora. Ainda não sabemos sua cor e nem os detalhes mais precisos de sua história... Sabemos apenas, que nasceu em um cenário inusitado e emprestou aos corações algo de esperança e ventania. Foi Jesus? Não sei. Não domino seu nome nem sua história. Não sei de onde veio nem para onde vai, ainda não o alcancei por meio de uma fé cristalina e inabalável. Sou um tanto cética e, para piorar, sou transgressão...
Hoje na sala, está montada uma árvore na forma de um pinheiro, repleta de enfeites e presentes embalados ao seu redor. Hoje, haverá uma ceia com panetones, rocamboles, perus, vinho dentre outros. É uma forma de celebrar, confraternizar. Há, inclusive um velhinho oriundo do mais gélido leste europeu pairando pelos trópicos brasileiros para nos lembrar quão válidos são uns belos goles de coca-cola neste calor avassalador...
Como assim? Não falávamos de Jesus, o menino salvador, o messias cristão? Em tempos de Noel, meus caros, Jesus é coadjuvante. Não, que eu ame as religiões e suas ortodoxias, seus dogmas e suas histórias com roteiros tão escapatórios, mas o espírito natalino - aquele que preza pela partilha e festejo da renovação de esperanças por um novo mundo/ano - transformou-se num oportuno encontro com as compras e seus significados pueris.
O que valerá à pena, quando a alma não for pequena? - parafraseando Fernando Pessoa.
Saberei menos responder do que indagar. Que o espírito, os presentes ou o simples gesto de estar com quem se ama possa valer a pena. O valor, neste caso é um sentido. Apenas.


Feliz Natal.

Os humanos e suas certezas

Os humanos e suas certezas tão quebráveis quanto os vidros da janela!...
O que fazer diante desse impasse?
Quis somente dizer que para sentir essa "certeza" é preciso tê-la em algum lugar que não seja esse hoje mutável. Tudo muda, até a sua ideia mais "intocável".

quarta-feira, outubro 02, 2013

O que é?

Uma sensação qualquer e uma música triste.
As ondas dela vão te levando...
Você se transporta.
Não sabe onde está.
Não precisa saber quem é.
Não se encerra de onde vem.
Não é um ontem-amanhã.
É um hoje.
O que você sente agora?
Não há porque dizer.
Quero somente sentir.
As vezes quero só silêncio e só.

Triste parecer?

Quem tem a verdade não a grita,
Simplesmente vive.
Se bem que esta não é uma questão de possuir.
Não temos nada nessa vida a não ser a ilusão mesma de supor que tenhamos algo.
Leve contradição.
Mas, nós somos nossa própria prisão.
O que nos prende é a intenção de um conceito fixo de nós.
É uma pena, seres constantes, mas a realidade é que somos móveis...

domingo, agosto 25, 2013

No bar

Não é uma questão de omitir, mas de fingir.
Finja que gosta de brócolis, quiabo e fibras.
Derrame sua cerveja sobre essa falsidade.
Arme seu novo plano. Execute-o.
A cada gole amargo da espuma,se perca.
Não finja que engole enquanto o outro perde a razão.
No bar a vida alheia é trama, narrativa, resenha.
Na vida em si, cada um guarda a sua verdade interna.
Vidros são quebráveis.
Interesses podem ser descortinados.
E se te descobrirem? O que você vai fazer?
O que você faria se não pudesse ser o que deseja?
Forjaria sorrateiramente que seria?
A cada gestinho inocente percebo uma fagulha para incendiar o outro.
Minúcias.
Só os raros podem ver. As regras são retilíneas.
Não se enxergam fora disso.
Na mesa de um bar pode se descobrir muita coisa, inclusive nada!

A arte de massagear

Tem gente que acha que possui a tudo em questão de segundos.
Tem gente que forja com extrema rapidez uma suposta "identificação".
Eu tendo dó de gente que pensa que pode e sabe tudo.
Alma... Ah, queime a alma e o corpo!
Que significados inventados de momento são estes!
Não me engano e nem absorvo por tão pouco.
Teimo.
A verdade é que somos todos, no fundo, bem no fundo, os mais despossuídos dos seres.
Toda a nossa urgência de ser alguma coisa e de mostrar isso aos outros escapa quando nos vamos.
Um dia seremos somente pó assim como tudo que vier a se saber sobre nós.
Essas máscaras hão de cair.
E os bobos hão de sofrer.
Caíram no papo, na conversa mole daqueles que lapidam e massageiam egos por conveniência.
Guarde o que pensa, eu perdoo... Mas, não ouse concordar o que lhe enoja para agradar.
Isto sim é verdadeiramente nojento!

sábado, julho 20, 2013

Odeio verdades

Odeio a verdade porque ela cria distâncias.
Acho que ela deveria estar sempre acompanhada por aspas.
Não vejo sentido nesses estatutos tão pueris...
Somos e pensamos diferentes, qualquer unidade é um mito ou um mero consenso.
Tem gente que acha que prova o que afirma...
Isto é no mínimo algo risível!
Insolentes!
Prefiro ser aérea a ser hipócrita.
Prefiro não ter a verdade comigo se esta for a que alguns divulgam por aí.
Sinto muito, mas aqueles que se alimentam dessa arrogância não me enganam.
Memórias fracas!
No fundo, nem são "verdadeiros"...
Seu verbo é julgar, pré-julgar.
Inútil "humanismo"!
Não se aproxime de mim, não faça nada por mim se for para para ser assim!
O que se sente ou se faz por alguém é um fato.
Há quem esqueça, mas eu não.
Odeio algumas "verdades" porque elas se concluem meras mentiras...


segunda-feira, julho 15, 2013

Gritaria

Quero uma canção destoante.
Vou cantá-la aos gritos!
Berrarei ao mundo a fúria dos meus sentimentos,
O derradeiro segundo de minha insatisfação.
Mas, desta vez preservarei meus pulsos.
Quero apenas vociferar a estranheza dos óbvios
E estender as mãos sobre os famintos de vida...
Esses versos desiguais e despadronizados são uma soma incompleta,
Uma divisão imparcial, uma multiplicação diluída, uma subtração da ordem.
O ordenamento de meus passos e sentidos.
As prisões que frequentam meu corpo e mente.
Um Eu a vagar impossível... 
Impossível negar meu amor pelas ruas e canecas de café forte...
Pelos felinos e papéis e canetas!
Pelos dias de luar, pelas vezes que partilhei de um lindo entardecer alaranjado...
Pelos livros de poesia, pelos álbuns dos meus cantores e compositores preferidos!
Pelo teu corpo junto ao meu nas noites cinzentas ou iluminadas!
Pela tua alma ardente, dilacerando o corpo no mais genuíno desejo!
Pelo gesto de nunca ser o mesmo.
De permanecer só que realmente vale à pena!
Sim, eu gritaria hoje por todas as coisas e seres que ousei sentir e amar.
Pela distância que minha voz dissonante pode alcançar.
Gritaria por mim e pelos meus, como grita agora, neste exato momento o meu interior mais bandido e límpido!
Vou ali, juntar minhas partes. Algo sobrou, algo sempre sobra: o coração. 

Isto: (in)visível

Quando eu penso na razão daquilo que vivo, beiro à loucura!
É impossível, é longínquo, é difuso!
O que é isto que eu ouso fazer fora dos gabinetes, das escavações, dos arquivos, dos projetos?
O que é isto que ouso sentir para além de fazer?!
Para mim, quase um "café filosófico"...
Um estado de alma, espírito, inconsciente freudiano...
Aquele que dá o toque final, que tudo guarda, envolve e explica...
Faço disto tudo, um acompanhar de palavras.
Palavras que revelam vivências e expectativas de vivências.
Sonhos pueris...
Planos (in)falíveis.
Gostos e ritmos.
Ataques e defesas para além de qualquer maniqueísmo.
E o que me incomoda, então?
O repasse da informação.
O saber confundido com informação...
A acumulação primitiva de informação!
Quando entenderão que isto é do campo do ser/estar?
Uma ontologia às avessas, um saborear da mutação necessária da vida!
Não... Não é o ontem que me fere a profundidade filosófica e vital disto...
É o ignorar das circunstâncias que envolvem um contato: o ontem e o hoje.
Como imãs, eles se procuram, se constroem e se destroem.
O ontem é o que não posso alcançar e o milésimo de segunda que demarca a passagem dessa escrita.
O hoje é um ontem anunciado.
Ah, o tempo! Ensina-me a romper a dor que é ver além do visível disso...

Onde ir

Não queira saber até onde vai a linha do mundo.
Não some expectativas.
Veleje: esta é a melhor forma de ir.
Não precisa saber o fim, o estar é mais importante agora.
Talvez nem haja chegada nem precipício nem pódio.
Os passos, largos ou curtos,
Os olhos presos no horizonte ou dispersos...
Tudo é um absoluto do nada!
A totalidade é a maior ilusão humana...
O nada como único viés é a pura insanidade diante das miudezas!
E o que dizer ao final de tudo isso?
Apenas caminhe.
O resto é rastro. São os dados do jogo.
Para alguuns sério, para outros tolo e tosco.

quarta-feira, março 13, 2013

Mundos

Quem me olha de longe não me vê.
Mas, nem mesmo quem está perto, de fato me enxerga.
Tudo reside na minha longa viagem interior.
Na minha introspecção delirante.
No retiro diário de minhas loucuras.
Não há quem me apreenda.
Qualquer desejo de totalidade aqui se encerra.
Eu gosto de viajar para lugares que nem sei onde ficam...
Tudo se passa aqui na mente: não é só imaginação...
É um não-lugar necessário. É o dentro de mim, eterno... Intenso e fecundo.
Meu olhar me denuncia, não somente minha atenção - ou falta dela.
Estar aqui - no mundo lógico e concreto - é, por vezes absurdo, sufocante e difuso.
Ai, então eu me espalho... Da circulação do sangue à abstração da alma.
Transito entre dois mundos: o mundo em mim e eu no mundo...
Em ambos, sempre delirante.

Ao mar!

Meu coração tem as janelas escancaradas.
Sou dengo. Abra um sorriso para mim.
Desarme-se, use e abuse do meu sentimento.
Só a você eu permito: seja meu porto, meu vento.
Desamarre as velas do barco, retire a âncora.
Vamos navegar.
Quero me sentir profunda.
Vamos dançar sob os oceanos.
Molhar os cabelos em alto-mar como quem deseja a chuva.
Vamos nos sentir.
Quero te sentir.
Ser teu sim, teus objetivos e fins.
Vamos ignorar os faróis que ao longe avistamos.
Vamos tentar! Vamos reter os medos e avançar!
Ao mar! Amar!
Amar em pleno mar...
Ser amor em lágrima e sorriso.
Sem destinos, juízos.
Vem, eu posso te cantarolar suas canções preferidas.
Posso solar em teu ouvido.
Posso me segurar em ti e o contrário disto!
Vamos embora. Já é tarde. Em qualquer ponto desse planeta circular, estarei contigo!

Passagens

Estou de passagem por aqui e por aí.
O mundo é uma longa estrada pela qual que eu passo...
As vezes, passeio... As vezes largo, zarpo, migro.
Mas, a vida em si é uma passagem.
Esta vida, outra vidas, velhas novas paragens...
O único esteio é o sentir-se profundo, pois a passagem nem sempre é superficial...
A passagem é o vir-a-ser...
O "sendo"...
O sou.
É um navegante feliz quando perdido.
É uma mapa do tesouro fabuloso, inalcançável.
É um sonho, um ruído.
É um caminho de saudade, pois é ela que mantém a tudo: o brilho no olho, o vento, o absurdo.
Passar pela vida do outro é deixar a saudade misturada ao querer mais pouco e ao não ter mais.
Fazer da estrada do mundo infinita e das vivências, urgências sem predefinições.
O que urge é "estar".
Não sou nada além daquilo que estou agora.
Sou o que estou e o que gostaria de estar é a busca de uma forma de ser.
Estou aqui: dentro de mim como em cada cais de porto desse mundo.
Estou em mim como quando canto: me esbravejo, me entrego, me reconheço.
Não sou de ficar. Meu único ponto fixo nesta vida é a flor.
Só ela me inspira a repetir passagens em algum lugar dessa vida:
Num coração delirante e terno.
Soma de tudo.

Sou sol

Estou saindo para ver o sol.
Estou solar.
Solamente mirando...
Somente sentindo...
Só na mente desejando...
Viajando...
Só lá... Perto/distante do sol
Me atrevo a não ser só o que se supõe que se deva ser!
Sou só grão no infinito desse deserto.
Som por som...
Sol em lá com dó...
Uma alegria só!

domingo, fevereiro 24, 2013

Olhares/detalhes


O mundo é imenso e as nossas relações se costuram por detalhes. Mas, por detalhes também podem se perder. Isto é um fato. Por detalhes magoam, ferem, intrigam, mas nos detalhes também alegram, suavizam e iluminam. Certa vez, foi dito que o que mantem uma relação é o status de estar por um fio. Por um fio, entre dentes, entreolhares, sorrisos, lágrimas. Nada na vida é sempre belo, perfeito, inquestionável. Somos propensos ao erro e assim, nos controlamos para ser acerto. Olhamos ao redor e nada entendemos. Olhamos para dentro de nós mesmos e a tudo explicamos. Todavia, nem sempre a explicação está naquilo que está teoricamente “dentro” de nós. Olhar demais para dentro de si é um equívoco proporcional aquele de olhar demais para o outro. Olhar demais para o outro pode significar ter medo de olhar para si e por isso fugir, escapar de um auto reconhecimento.  Tudo em demasia é risco. A fórmula do bom relacionamento entre as pessoas não existe. O que se vende por aí tem prazo de validade. Relacionar-se, pois, é a única condição e possibilidade de conhecer os limites das relações.O único exercício é: aprender que a sua dor nunca é a maior e nem a menor do mundo. Ela é só a sua dor...

sexta-feira, janeiro 04, 2013

Contração

Eu sei que neste exato momento seu coração está pequenino e dolorido.
Você procura os porquês, os sentidos, as reais explicações...
Sei que você tem se procurado em si mesma.
Tem lhe inquietado a inconstância, a instabilidade de certas coisas...
Seu coração se contrai. Você está triste.
Desesperançosa, talvez.
Você está sem chão, ou simplesmente desiludida.
Por todo tempo você carrega consigo suas certezas, faz das ações um espelho das palavras.
Faz das palavras e ações transparências dos seus sentimentos.
Você é o que diz, faz e sente.
Não lhe confundo com nada diferente disso.
Só não me resuma em nada muito distante de tudo isso...

Tendenciosa

Pediram-me descrição e eu só soube ser amor...
Assim é a vida: uma escolha tendenciosa.
Somos coisas e podemos nos somar a outras.
Podemos ser não aquilo que nos convier, mas o que é necessário.
Necessidade não é conveniência.
Precisamos entender do que é feito o amor.
Precisamos aprender a amar mais e melhor a cada dia.
Precisamos nos desprender de nós, de nossos egoísmos e sermos intensos em atitudes.
Palavras são importantes, mas fazem mais sentido quando acompanhadas de ações.
A cada novo momento tenho aprendido o quanto isso é verdadeiro...
O amor sabe nos dar lições de vida...

Aos Ofendículos

Um ano e tantas histórias. Vidas tramadas.
Vivências recuperadas, resignificadas, reaproximadas.
Outras, apresentadas.
Olho por olho, abraço por abraço, palavra por palavra
nos encontramos...
Sorrimos: detestamos tristezas.
Gargalhamos: coisas sérias são as melhores piadas!
Soubemos ser ombros amigos e exercer uma fraternidade de pele, corpo, alma, espírito.
Aprendemos a olhar o outro com os olhos do coração, pela transparência dos atos, pela poesia dos encontros.
Aos poucos, transformamo-nos em pontes. Fizemos de nossa amizade rotas, caminhos, porto.
Nesse nosso porto, as noites se clareiam pelo empréstimo sempre solícito da luz da lua.
O tempero das conversas faz a vida e as relações entre nós possuírem um sabor único.
São mais que afinidades, são diferenças que não nos distanciam, ao contrário, nos enriquecem.
Cada um com sua história peculiar, seu olhar sobre o mundo, a vida e as pessoas.
Cada um com disponibilidade para ouvir, abraçar, estar presente na alegria dos encontros e no contato à distância.
"As casas simpáticas e simples" de Natal são nosso cenário. Dançamos uns com os outros e o único espelho que quebramos é da ignorância do preconceito alheio.
"It's my life": repetimos no plural!
Apelidamos, brincamos, não nos repetimos. Somos sempre novos em nossos desejos e iguais no que nos une: nossa vontade de permanecermos juntos, unidos, reunidos ou não. Estamos sempre na lembrança do outro.
Fazendo mágico com objetos e palavras, encantando com nosso próprio jeito.
Nosso ofendículo impede somente o acesso a uma coisa: a insensibilidade.


Minha máquina de escrever I

A vida é uma trama insana. A busca pelo sentido é inalcançável. E disso, resulta infinita. Não suponho que se encerre no estado frio do corpo. Quero imaginá-la e vivê-la noutros lugares fora dos habituais e visíveis. Quero sentir o seu cheiro no passeio pela esperança do desejo vindouro. Custo a acreditar no que se crer por aí. Tenho atração por tudo que remete à intuição. Na verdade, há muitas coisas que não sei como fazer, como encontrar, como definir e como viver. O desafio da vida, talvez seja, portanto "discernir". Entre o fel e o mel há uma forma de sabor que não se sente na primeira degustação. É preciso insistir na prova, repeti-la.

Não há nexo entre o início e o fim nessas palavras. Mas, o excesso de nexo é sempre enjoativo. Precisamos ser loucos uma vez, para provarmos um pouco de qualquer gota de lucidez...

Depois de um ano

Tanto tempo sem vir aqui. Sem estar aqui.
Estive com saudade, mas me perdoe a ausência, eu dei uma pausa na palavra para viver.
Antes, eu só escrevia.
Escrevia o que desejava, o que sentia, o que não vivia.
Hoje eu vivo, pulso e escrevo histórias no dia-a-dia da própria vida.
Um ano depois nada mais me parece mais belo do que o primeiro sorriso da manhã do meu amor.
Calmaria... De repente me vi/senti mulher...
O cotidiano me apresentou reais responsabilidades e prazeres indescritíveis.
Eu me redefini infinita.
Abri asas e voei. Alcancei o mel da vida e do amor. Provei sabores.
Foi rico. Senti-me rica, poderosa pela primeira vez.
Estou renascendo a cada dia. Como uma criança estou aprendendo a andar com as próprias pernas.
Estou tentando viver coisas verdadeiras e não somente escrevê-las como dantes.
Hoje vejo como cair nem sempre é estar/ficar no chão.
Ou talvez, o chão nem seja o lugar da queda.
Ou mesmo, a queda não seja algo ruim.
Ser imperfeita é ser melhor. Esta é uma possível indefinição.
Sei que há muito a aprender, a estrada é longa, o tempo é uma eternidade de momentos.
Contudo, para quê tanta pressa?
Para quê esse tanto de coisas absolutas?
Tanta coisa aconteceu, tanta coisa mudou e estamos firmes na nossa busca por nós.
Eu nunca quis tanto querer sempre mais do quase ninguém querer como hoje quero!
Estou saudável. Quase tudo já não dói tanto.
Somos dois corpos num só e nos demos nossas mãos no passeio da vida.
Não estamos sóis. Nem por fora, nem por dentro.

Aos poucos


Aos poucos você vai perceber: nossos mundos não são tão diferentes.
Ou melhor, nossa diferença não nos pode distanciar...
Aos poucos você me sentirá menos inconstante, menos instável, menos omissa...
Aos poucos você e eu estamos construindo um "nós".
Aos poucos somos um nó: forte e verdadeiro.
Aos poucos haverá pouca pressa e cada momento se desenhará melhor definido.
Pouco é o medo.
Farto é o amor.
Não temo teus olhos curiosos e ávidos de mim.
Não queira sentir, de repente, menos do que realmente sente.
Eu sinto. Tu sente. Sentimos.
Somos o que não explicamos. Na verdade, somos o que não se pode explicar.
Somos.