quinta-feira, janeiro 12, 2012

Tua força


De onde vem a tua força?
Quero encontrar teus anéis
E envelhecer no colo da tua firmeza.
Lá, os sonhos parecem infindos
E os medos aquelas coisas mais descabidas
E o impossível o algo mais contestável.
Sim, teus pés têm raízes na vontade.
As sombras são somente subterfúgios, intempéries,
Detalhes mínimos de um retrato.
Teu brilho é independente.
Nada fala por ele,
Mas a felicidade da flor se encontra nele.

Da Babilônia


Desejaria agora estar num daqueles jardins da Babilônia.
Alguém me retribua o sonho com um passaporte atemporal.
Alguém me reporte às antigas trilhas deste mundo vão...
Somente suspensa no sonho, reiteraria a fome do acaso.
Tenho achado tudo tão pragmático...
E assim, já não sobressaem os jardins, mas os cativeiros...
Tenho medo!
Tenho medo do sangue que derrama a incerteza, a miudeza das coisas,
A seiva da vida a perder-se indefesa...
Acontece que é tão difícil sair da prisão do óbvio.
É tão rara a convicção do erro e o reconhecimento do acerto...
É tão doloroso não matar a sede do tempo
E é estranho ser neste minuto, a expressão mais profunda de um descontentamento...

Decadência emocional


Estou encurralada por lapsos.
Minha mente parece um grande labirinto agora
E minhas ideias estão lá: perdidas...
Não há certeza alguma a não ser o medo.
Tenho sentido dores no peito
E grande volume de perturbações no pensamento.
Estou dispersa, fria e volátil.
Estou cínica.
Sem aptidões para ser generosa e benevolente.
Estou má.
Estou má por opção desta disritmia.
Aos poucos escolho a loucura para explicar minha decadência emocional.
O fundo da alma, a superfície do corpo,
Tudo me falha.
Agora só quero deitar e repousar de mim mesma.
Desencantei de mim.

Quebro


Não sou do bem.
Domino a manha das palavras
E sei da violência do meu silêncio.
Não me amparo mais.
Com qualquer coisa quebro.
A pedra que atiro não sabe aonde quer chegar.
Sumirei por uns tempos.

Mundo da lua


Não estou firme.
Os pés por necessidade estão distantes do chão.
Esta é a minha condição de liberdade: ser além-terra ao menos no pensamento.
Lá, ninguém me persegue.
Lá não me explico, só me dissolvo.

Atribuições perigosas de momento


Lido bem com minha vilania,
Com minha covardia,
Com minha ousadia descartável e inapropriada.
Teimo tanto comigo mesma
E não saio ilesa,
Sinto a indelicadeza do gesto.

Talvez ou somente


Os defeitos me sobram.
Talvez eu ainda não saiba lidar com minhas qualidades.
Talvez minha ironia oculte minha pureza.
Talvez eu seja só inconstante
Ou somente colha o que a minha impaciência planta:
A solidão.

sexta-feira, janeiro 06, 2012

Ironias


Posso ficar menos clarividente agora?
É que já cansei dessa esperteza dos vilões.
Sou irônica e ruim.
Mas também sou lenta e boba.
Demoro, mas um dia aprendo.
Sofro, mas um dia comemoro.
Não o seu fracasso, mas a minha força de ir adiante.
Não me interesso pelas suas quedas.
Elas não te absorvem nem me penalizam.
Fiquemos em silêncio.
A ventania há de passar.
Minha dignidade, não.

Não sou óbvia


O que você pode entender agora de tudo isso é que tenho pouquíssima vontade de ser assimilada, assim, dessa maneira minimalista.
Não sou óbvia.
Mas, lido bem com a intranquilidade que isto revela.
Sonho alto com dias de menos lamentações e satisfações.
Acho que andei errando demais e sofrendo por não acertar.
Mas isto faz parte de uma eterna ideia de passado.
Estou bem com este excesso de indefinição.

Ruminâncias


Eu não preciso viver as coisas para contar uma história.
Basta imaginá-las.
Geminianos têm nisso a sua grandeza e o seu poço.
Sou melhor quando escapo à esta objetividade do mundo...
Não preciso ser transparente o tempo todo.
Perturbo por isso.
Minha mente é um turbilhão,
Só algumas vezes consigo controlá-la.
Alguns dirão por aí que gasto muito tempo ruminando pensamentos.
Mas, aqui dentro de mim eu sei que não preciso ser perfeita.
Não sou obrigada a atender demandas alheias.
Tenho minhas próprias loucuras para acreditar e me encurralar.
Mas não reclamo, só sorrio.
Tem muita gente que se pretende racional e faz da vida uma planilha.
Descobri que minha vida não é certinha e nem nunca será desde o momento em que encontrei a mim mesma.
A partir de então, caminhei olhando primeiramente para dentro de mim porque viver olhando apenas para os outros é doentio e mesquinho.

Retina


Meu olhar denuncia o tamanho da minha saudade,
da minha maldade,
da minha sinceridade.
Vejo as coisas sentindo.
Não sou constante como alguns gostariam.
Sou febril.
Literalmente boba.
Desprendida da ideia de posse.
Isto não se encaixaria bem em minhas humildes filosofias.
O meu jeito é insosso para uns e saboroso para outros.
Entendo a vida como um caminho de reencontros, desencontros e encontros.
Tudo nos permitindo o reconhecimento, o desconhecimento e o conhecimento!
Ah, já não se atam laços como antes.
Hoje, nos sentimos cada vez mais soltos.
Quanto a mim, prefiro continuar cruzando a estrada da vida com a certeza de que sou mutável e me permitindo ser intranquila.
Isto não me garante nada, mas me deixa livre, inclusive para sofrer.

Loucura solitária


Todos os dias ela sorri para o espelho quando acorda
E vai lavar o rosto.
Este é o jeito dela de não desanimar com o pífio.
Esta é a forma que ela encontrou de ignorar o mau humor.
Então ela liga o rádio, encontra um rock, aumenta o volume e canta...
Canta alto!
É uma estratégia para extravasar os sentimentos e explodir dores e alegrias.
Depois ela põe um bolero e baila lembrando-se dos momentos mais eternos que já viveu...
Segura a própria cintura, abraça o próprio corpo, fecha os olhos e esquece tudo.
Não tem medo de ser feliz, ali em sua loucura solitária.
Simplesmente, sorri e viaja no pensamento...
Faz clipes com as canções.
Lida melhor com as desrazões daquele ínterim matinal...
Mas quem disse que ela acorda às sete da manhã?
Que nada...
Ela acorda sempre às tardes, porque a noite ela vive e na madrugada ela se revela.
Então, encara o tempo como uma abstração e a vida regrada como algo questionável...
Rosto limpo, dentes brancos, espelhos, sorrisos, canções, loucuras: tudo nela maior do que qualquer suposta dor!