sábado, maio 29, 2010

Me ensina

Me ensina a não me sentir tão ferozmente uma parte de ti! 
E se mesmo assim eu não conseguir, então que você me ensine a sentir em mim a tua parte mais doce... 
Me diz como faço para conseguir respirar sem procurar seu cheiro no ar? 
Como faço para controlar meus lábios desenhando incontrolavelmente sorrisos sempre que penso em ti? 
Duas margens de terra, o oceano deslumbrando os versos meus, as palavras tuas. 
O teu coração perto da lua que teimo em tentar alcançar... 
A tua boca envolvida na minha... 
O ritmo, o passo, o sopro, a chama... 
Me ensina a não te ver em tudo que vejo ao meu redor... 
Me ensina a não ver unicamente você... 
Me ensina tudo isso junto a mim...
Pra sempre.

Seu olhar

Seu olhar é o assunto dos meus sonhos. 
Olhar de cores mescladas, de brilho encantador. 
Seu olhar é o passado, o presente e futuro de tudo.
 Ele é a conjugação dos tempos verbais ou não verbais.
Se estaciono na possibilidade de contemplá-lo, de trocá-lo com o meu, logo o tempo se dilui em mim. 
Logo, tudo fatalmente congela. 
Seu olhar me explica, define todo o meu sentir. 
Imaginando-o, eu restauro o riso perdido, componho versos dos mais belos, minimizo qualquer tensão. 
Perto do teu olhar, meu sono repousa. 
O teu olhar em meus sonhos envolto... 
Ele me pede... Ele me suplica a mim mesma... 
Ele me dispõe, ele me compõe.
 Ele reintegra meus cristais outrora quebrados. 
E no encontro com o oceano suavemente esverdeado que compõe o meu, o teu olhar perfura meu íntimo. 
Seu olhar me redime das dúvidas que tenho. 
Mesmo em pensamento, ele não tem a face da certeza, mas o encanto do possível. 
Fitando-o, meu coração se encerra em risos incontrolados. 
Seu olhar é pouso, moradia de meu corpo, alimento de minha alma.

Ser absoluto?

Não quero correr o risco de ser absoluto. 
Quero permanecer imensidão, estranheza, imprecisão. 
Quero outonos febris e primaveras convidativas. 
Invernos envolventes e verões os mais insanos possíveis. 
Não posso me prender ao risco do conceito, ao delírio da afirmação. 
Eu não afirmo, eu exclamo, intimido. 
Exageradamente torno vivo em mim a real insignificância das horas, o tapa nos lamentos, o olhar que se perde apreciando as flores, sentindo tão imaginariamente o perfume delas.

Tenho algo a dizer ao mundo?

Outro dia me disseram que tenho algo a dizer ao mundo. 
Eis a minha ânsia: dizer apenas algo. 
E é nesta demanda de dizer que peregrino em todo esse excesso de palavra toda essa (re)escritura eterna que faço de mim a cada verbo, substantivo, crase ou simplesmente a cada riso, olhar e sensação. 
Pois, palavra e sentimento são inseparáveis dentro de mim....

Engasgo

A casa minuto eu me engasgo com o ridículo do mundo! 
Como as pessoas podem torná-lo tão patético?!... 
Como elas mesmas podem ser tão mesquinhas, insalubres...

Sobre solidão ou destino

Desperdicei anos escrevendo sobre estar só, lamentando-me do que eu imaginava ser meu destino. Temos a estranha mania de classificar nosso destino antes mesmo de vivê-lo. Antes de suá-lo em nossos poros, antes de vivermos a aventura que ele é. Como velhos sábios de tribos milenares, nos afirmamos conscientes de nossos fardos. Logo, associamos corriqueiramente o destino ao fato intempestivo. Negamos a grandeza e inocência de termos apenas entre doze e treze anos de idade. Esquecemos de tanto caminho que temos a trilhar e ainda que o ato irremediável de deixar de existir nos arrebatasse aos quatorze anos, ainda assim teríamos cumprido não um suposto destino, mas percorrido uma estrada. A juventude calada pelo não pulsar do peito e todo o resto de lembrança que podemos causar... Ah, mas por tão pouca coisa nos fazemos dor!

Dispersa

Tenho um vocabulário pobre e dedos mergulhados em agonias latejantes. 
Tenho dores em todo o corpo e talvez doses alegrias para diminuí-las... 
Componho versos mal feitos, prontos para serem ignorados, escritos à zero hora de um dia incomum, guardados nos guardanapos manchados por gotas de vinho e borrados pelo batom encarnado... 
Não há como não viver dilacerado, não há como negar o risco de tudo sentir aglomerado em si... 
Logo, escrever não é um compromisso assumido com qualquer espécie de arte ou expressão artística... 
Escrever é escape quando poderia ser (re)pouso.
Escrever tem sido a razão de dias e noites e não escrever deixa tudo mais sóbrio e incolor. 
Dizer... Ah, como tenho tanta coisa a dizer! 
Por isso me perco, sou substância que evapora fácil e o vácuo no lugar da palavra é sintoma da soma de tudo. 
A imaginação não me falha, a inspiração não me foge, é simplesmente a calma que não está em mim e toda impossibilidade de agora alcançá-la é o que me torna tão drasticamente dispersa...

Sobre poetas, palavras e sentimentos...

Certa vez eu me perguntei se bastava sentir. Certa vez me invadi de dúvidas e as coloquei por entre os traços da escrita. Ali, ao lado, folhas de papel, canetas de todos os tipos e a imaginação como companheira inseparável. Parece-me que as horas nos atravessam mais suavemente se as enfrentamos munidos pela imaginação. O mundo é feito de tantas coisas; a realidade é tão cheia de cruezas diversas que imaginar torna-se tão necessário quanto navegar o é para um marinheiro. Penso que a imaginação funciona como um antídoto. Se lá fora a cidade está sitiada pela epidemia de tanta gente vazia, aqui nesse quarto, trancada, imaginando, eu acabo negando um pouco de tudo aquilo que lá de fora me apavora. Em meio às ruas, às avenidas, às travessas, as pessoas se cruzam, mas não se olham... Atritam-se, mas não se comunicam. Tudo é pressa na cadência imposta pelo relógio. Existe hora para tudo e não há nenhum motivo suficiente para ignorá-la, seja em sua escassez ou excesso. E assim, consumimos um pouco das palavras alheias para só assim fazê-las tão nossas! Elas são nossos túneis, saídas aparentemente invisíveis. Espaços onde a alma pode invadir e habitar sem medo. Espaços que uma vez explorados tem o dom de nos fazer esquecer que este mundo é um grande degredo... E que viver é sentir todo o peso das coisas machucando violentamente os nossos ombros. À luz de velas ou lâmpadas elétricas, escrevendo ou lendo, desvirginamos a nós mesmos num gesto construído entre o suor e ânsia. No pergaminho da escrita, as palavras nos dissolvem e nos erguem. Devoram os ruídos, os gritos, os corpos, os traços, os ditos. As palavras imitam e dão vida às nossas sensações mais íntimas, nos devolvem o gesto de viver e tornam quebráveis os argumentos mais firmes... As palavras partem do sentir e o sentir inevitavelmente se transborda nelas! Por vezes você até supõe que a loucura lhe bateu à porta e que as chaves se perderam... São instantes únicos, sensação de tudo ser sem medo de aparentar nada ser... Os poetas vivem na demanda de responder ao impulso da realidade e fazem isso recriando-a, adornando-a do belo, do trágico, do riso, da dor... Sorrindo da seriedade do mundo e das pessoas... Debochando das certezas, os poetas traçam seu sucesso e sua desventura, negam o que a maioria afirma, insistem obstinados naquilo que todos descartam... O poeta é um peregrino do verbo “ser” e faz do “estar” o seu termômetro, o indicador de suas emoções... O poeta nada conclui, tudo dilui... O universo é pouco para ele e o horizonte é a esteira de seus passos mais sonhados... Esse ser das palavras e sensações rivaliza com o tempo, vivendo-o em pingos, esticando-o em instantes do mais ‘impróprio’ ócio. O poeta diz de si e se faz espelho de angústias e delírios do mundo. Mistérios lhe corroem em todo ato de olhar o ‘tudo’. Como um pescador, ao longe, ele observa os peixes tentando pescá-los e os levar para junto de si. E assim, os devora entre o olhar e o organismo, tudo comunicado pelo anzol. Trajeto de encontro ou de despedida no qual o poeta tece sua canção silenciosa, recriando melodias. Poeta tão poeticamente refeito em verso, contudo grandioso não apenas pelo que escreve, mas pelo que alcança através da sensação. Sensação celebrada no encanto causado no outro. Toda poesia torna-se chão de um delírio e acima de tudo uma suspensão do tempo, um riso saboroso, a saciação da fome de vida. Que os versos sejam sempre inúteis para a minha dor, pois só dolorida os procuro e encontrando-os, sentindo-os, calando-os em mim, eu calo a minha própria dor, logo ela passa a não ter sentido e viver torna-se poético!

quarta-feira, maio 19, 2010

Onde eu moro e onde eu penso me encontrar...

Eu moro longe daqui. Meu lugar é cada pedaço de chão que eu piso ou imagino pisar. Por isso estou sempre longe, pois cada caminhada é um passo para um lugar diferente. Eu viajo e conheço uma infinidade de lugares através da imaginação. Inexplicavelmente tanta coisa mora em mim. Mora em mim a melancolia e o saudosismo dos portugueses, por exemplo. Essa gente de um lamento poético ou de uma poesia cheia de clamor. As terras lusas do outro lado do oceano parecem tão minhas quanto às ruas que percorro aqui na aridez desse meu lugar. Mas sinto, cada vez que imagino passear pelas velhas ruas lisboetas, o aconchego e o grito sufocado, o misto de dor e alegria. Minha preferência é pelas ruas, ladeiras, esquinas e ruelas velhas. Em chão lusitano me magnetizo pelo toque do passado. O presente passado. O retorno desejado é para décadas distantes enfeitadas pela presença de homens dilacerados e loucos. É com essa memória, com a possibilidade do exalar dessa memória que eu sonho tocar. É essa sensação do mar, do descobrimento, da saudade que eu quero experenciar. Destreza de um Eça, saudosismo exacerbado de um Pascoaes, insanidade de um Sá-carneiro, impulsividade de uma Florbela, genialidade e excesso de consciência de um Fernando Antonio Nogueira Pessoa! E quantos outros ainda necessito conhecer!

Sobre ser útil

Certa vez você falou que nada conquistou nessa vida. E eu me encontrei no seu depoimento. Afinal, o que fiz eu de minha vida? O que alcancei até agora? Para onde caminho? Que horizontes procuro? Tudo é tão incerto e eu tomo café excessivamente para esquecer-me da obrigação que é ter um caminho, um objetivo e, por fim, o que é ser bem-sucedido. Que grande droga é não ter espaço para ser dúvida! Mundo burguês contra o ócio transgressor. Mundo burguês que prega que temos que ser seres produtivos e lucrativos. Mas quem disse que eu queria fortunas? Que eu queria ser útil? Mas a questão é: não importar-se em ser útil é um ato criminoso. Temos que ser úteis, nascemos e vivemos para isso: sermos úteis, produtivos e lucrativos. Tudo na velocidade do mercado. Tudo na marca da servidão, pois para que alguns desfrutem do ócio do conforto e do consumo, milhares têm que varar madrugadas a fim de se tornarem tão cheios de mérito e honra, pessoas úteis. Úteis a outras poucas pessoas, e não, úteis ao mundo. Trabalhe compulsivamente e seja bem sucedido: essa é a sua maneira de ser útil e reconhecido.

Uma noite desastrosa

Roa as unhas, minha querida! Retire todo o esmalte rubro com o qual você as pintou... Depois que suas unhas estiverem despidas da elegância do mundo, tenha cuidado para que não quebrem, não criem capas, duplas peles. Retire também com aquela loção barata e ineficiente o resto de maquiagem que escorre borrando seu rosto. Você que vem de um desastroso jantar à luz de velas que só estava programado na sua cabeça não sabe como afastar a decepção não é mesmo? Mas ele te avisou que não traçasse planos, não esquematizasse o futuro, não alugasse um apartamento e nem providenciasse um enxoval... Isso é costume de outrora. Mas um costume permanece ardente: a dor de ter sido descartada. Que fluxo de mágoas se emaranham em você agora... Seu vestido de cetim, seu salto quase quinze, nada adiantou... A mesa dele já estava enfeitada com outra companhia. Os olhos dela eram azuis cor de piscina e os seus castanhos comuns... Afinal, seria inevitável uma comparação... Tudo lhe partiu naquele dia. Sua carência de uma vida toda. Seu desejo de encontrar alguém. Sua vontade de amor... E então agora só lhe resta o esmalte e a maquiagem. Retire esses pedaços do desencontro. Com a face e as unhas limpas, volte a pintá-las com a cor do desejo. Uma hora, ele te retornará. Acredite: a vida não acaba numa cena. Ela tem tantos capítulos!

O reino e o fim

Eu quero meu próprio reino! Nem que seja o das palavras. Nem que seja o simples sopro das palavras. Minha vida lamenta o curto espaço dela como se previsse o fim para breve. Mas não havia cocaína na bolsa e, nem mesmo drogas injetáveis... Como aquela vida tão juvenil iria partir-se assim em definitivo e tão rapidamente? Não era a carne que lamentava o insosso da vida: era a alma! Ela não suportava mais a infâmia da insensibilidade, a miudeza dos gestos fajutos, as hipocrisias ferozes... Não havia tempo e razões suficientes para submeter-se a tão viscerais dores. Havia um degredo inexpugnável. Do alto do céu anil que se perdera em sua memória, as nuvens traçavam caminhos... Eram trilhas imaginárias. Macias para aliviar a dor de ter vivido. Era a bala alojada na alma, cansada de ser errante na certeza incerta do discurso. Vou-me embora! Sinto o peso do mundo nos ombros. O peso de não ter devidamente me adaptado ao modo de vivente. Estou preso ao caderno e a palavra. Apenas isso me mantinha aqui de algum modo. Então, se é assim, que eu siga para o meu não-lugar desejado. Lugar onde eu possa ser tudo mesmo sabendo que nada mais sou de fato: pois, estarei descansando da vida... Logo, estarei me despedindo de existir. Logo, nada serei além de uma lembrança tosca, mas acima de tudo, uma lembrança. Que o meu reino me abrigue. Que tenha virtudes de céu e a quentura de infernos. Só não terá vida, pois esta incontestavelmente sempre me escapou...

E se despertar?

Ela trazia nas mãos o anel de compromisso. Tocou a outra mão pela primeira vez sentindo-a suavemente. Olhou para os lados, gastou alguns milésimos de segundo nisso e selou tudo com um beijo. Dali em diante, sorriu. Simplesmente sorriu... A felicidade se semeava em seus poros. Ornamentava suas vontades. Mãos dadas, hora de fugir do mundo. Hora de trancar-se no ninho. E só sair dele para voar para bem longe... Na outra ponta do universo... No ninho os sonhos materializados. As esperas saciadas. As mãos se encontrando... Tudo belo. Tudo além do imaginado. Além do desejado. Além vida, além real, além razão. E se despertar? Ah! Mas para quê massacrar-se com essa angústia? E assim, ela deixou fluir o sonho. E só assim ela permaneceu desejo.

Absorver




Quanta coisa me absorve neste instante! Quanta dor se reparte dentro de mim, mastigando as horas, ladrilhando a expressão que corre a face. Tantas vezes eu quis somente o sono dos mortais, aquele momento de fugir inconscientemente do mundo! Mas eu permanecia acordada, desperta, atenta a perder os preciosos pingos de tempo que são tão valiosos para outras pessoas... Lá, deitada na cama, mas sem pregar o olho eu gastava a imaginação. Eu desdenhava das ocupações... Eu permanecia ócio em carne e osso. Meu talento mais cortante? Ignorar tudo aquilo que é básico e fundamental para a grande maioria dos seres. Lavando o rosto, tomando o justo e necessário café, despenteando o cabelo cacho a cacho, eu me encontrava com a minha miséria e ao mesmo tempo com toda a minha grandeza... Suspirava... Pensava... Pensava... Suspirava... Mas já nada desejava. O desejo de algo, o desejo de ser, o desejo de vir-a-ser é muito ilusório... Logo, não foi grande esforço abandoná-lo... Porque abandono tudo o que não me causa paixão no ínterim em que assim se demonstrar para mim... É tanta coisa que nos absorve nessa vida! É tanta ânsia de absorver tudo para que assim se absorva a si próprio mesmo que ficticiamente... Então que toda absorção seja de (des)utilidade pública!...

domingo, maio 16, 2010

Das dores cantadas do oratório...

Foi por amar.
O cenário: o altar.
O encontro: o olhar.
O destino: o amor.
O fim: a solidão?
Foi por sentir-se metade?
Foi por esperar?
Foi por crer ou descrer de tudo?
Que olhos desejava ver?
De que sombras a oração lhe pouparia naquele instante tão dolorido?
As dores poderiam ter como remédios as palavras?
Pouco se disse...
Tudo se contemplou...
Desvelo...
Grito sufocado...
Vento, prece...
Resto insuficiente de esperança...
Solos melancólicos ao fundo no dedilhar das cordas do velho violão...
Gemendo as dores que as preces não puderam afastar ou que apenas acolheram por misericórdia...
Tanto sol queimando a face do amor...
Tanta ventania espalhando as queimaduras do abandono...
Fazendo da pele a face do estrago da faísca...
Mas só vejo o rosto, o olhar desolado, perdido...
Teimando em inventar a dúvida, quando a certeza do nada já quebrara a porta com tantos avisos...
Os olhos pedintes de respostas, de chances... De riscos...
Nem o segundo de marejá-los foi tão longo...
Tudo foi demorado naquele dia...
Todavia não houve saída...
O fim se completou...
E o rosto permaneceu apático...

sábado, maio 15, 2010

Haja verso!

Há dias em que a vida perde urgentemente que se faça algo além de respirar. Que além da crueza da realidade, haja sonho e imaginação. Haja verso.

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Quase poesia. Quase medo...

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Um arranjo de violetas enfeita a mesa. Há um perfume suave exalando pela casa. E isso poderia ser o início de uma bela poesia desde que fosse bela a intenção desse princípio. Todas as horas do dia a minha mente se povoa de projeções imaginativas. Desenho cenários. Imagino cenas. Vivo uma vida paralela na imaginação. Vivo uma vida paralela com a palavra. Vivo do medo de me perder no meio de tanta imaginação. Esse medo é meu limite. Aliás, é o limite de minha condição de ser limitado. Ter uma proporção é tão desolador, diante da magia de poder ser infinito! Ah... Esse meu medo vão...

Pedra do desejo

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Tantos desejos inexplorados. Angústias de outrora. Água que perfura as rochas. Resto de pedra do que reina em mim. Balança da inconstância. Difusão de dor. Gota de prazer.

Sobre o vento

Ventos rasantes correm pela rua. Ventos cheirosos na chácara. Há vento por toda parte. Há vento que te invade de sorriso e sensação de conforto. Que chega a você como a presença tão desejosa do outro. Há vento que te inunda da poeira das horas perdidas. Tão perdidas quanto escapadas. Velozmente ferozes, fugazes, inapreensíveis em si. Vento, ventania, brisa. Medidas de vento. Partículas de algo que sopra em você em velocidades variáveis. Certas vezes o vento é um abrigo. E a ventania uma vontade. E a brisa uma surpresa. Qual será a cor do vento? Vento e ar... Possibilidades de um algo que te toca, te arrepia, te conforta. Vento nas estações diferentes, vento nas faces ressecadas. Vento nos olhos: ciscos! Vento na pele desprotegida. Vento e sol: Seca a terra, rói o chão. Vento e lua: noite fria. Vento e lábio: o ar trocado, compartilhado. Sentir a vida nas partes do ar. Partes estas que te encontram de algum modo. Que te afirmam que a respiração é algo mais que respirar. Contemplar o ato de respirar... Contemplar o vento: essas loucuras que só os perdidos na realidade incerta do mundo sabem saborear... E... Deslizar em filosofia cotidiana.

Dormir é poético!

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"Deixa eu ir embora agora pra fazer do sonho o meu eterno espaço de ilusão e encontro... Deixa que o travesseiro acolha minhas dores e acarinhe minha face carente e provoque o meu sorriso tímido, de uma ponta à outra do lábio, devolvendo o desejo, a chama da vida."

E existe esse tal de segredo?

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Se eu tivesse descoberto o segredo das coisas eu já teria morrido. O segredo de viver é não querer desvendar segredos, mas apenas viver. Quero viver a eternidade do momento em que penso - simplesmente penso! - em respirar! Pois toda filosofia do ritmo cotidiano e alheio permeia meus poros, ilustra as minhas vontades. Para mim, fazer e não pensar não chega a ser um erro, mas é um descaminho. Penso, logo faço! Como me falha a praticidade dos bem sucedidos, que me sobre a inspiração e o excesso de consciência dos loucos!.

Estar poética...

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Estar poética... Ferozmente melancólica. Costumeiramente dispersa. Eis a saga dos sabores e dissabores de viver. Instantes de sonho. Instantes de degredo. Mas nessas horas, lembro-me que tenho alma. E ter alma é ser mais que matéria. É a possibilidade de ser excesso do invisível. Quero que visível seja o belo e o monstruoso do que tenho em mim. Todavia confesso que ninguém consegue ser espelho de si mesmo, reprodução fiel de tudo de si. E assim todas as possibilidades do invisível tornam-se para mim demandas poéticas!

Sobre continuar desejosa...

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Nem tudo que escrevo vem de mim. Boa parte me atravessa. Meu caminho é disforme e intrépida é a minha cadência fugidia. Nada me confirma. Tudo me dilui. Não sou solúvel... O meu teorema não tem solução. Nem sempre preciso da palavra que rima. Nem sempre quero palavra alguma. Às vezes quero só um abraço que é pra poder continuar de pé. Firme. Desejosa.

Ainda a dor...

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Eu não quero copiar a sua dor. 
A minha já é autêntica o suficiente.
A minha dor é minha. E a sua dor é sua. 
A nossa dor é a nossa vontade de senti-la.
É a nossa necessidade parti-la.

Delírio

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Delírio por delírio eu me desfaço. 
Minha tela em preto e branco. 
Nada de rosto, de olho, de boca.
Há só palavra.
O resto é ambição ingênua.

Faço minhas escolhas.

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Têm aqueles que me dizem que preciso ser menos ingênua.Têm aqueles que aconselho: não gastem seu precioso tempo me dando conselhos. Falta-me a humildade, é certo. Mas é que aprendi a caminhar errando e acertando. E aprendi também a suportar todo o peso negativo e positivo disso.

Meu caro Álvaro, e a verdade?

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Álvaro de Campos, onde está você? Estou entre o choque de verdades inadiáveis e a ilusão da própria existência dessa verdade... Ora, os cientistas me avisaram que a verdade ocidental em certos momentos é ridícula. Chego a rir descontroladamente de quem acha que pode ser dono de alguma verdade... Ha-ha! Como se a verdade existisse... Como se não precisássemos inventar alguma pra viver/sobreviver... Já diria Lispector: inventemos alguma por aí...

Rumo à loucura

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O primeiro passo é esse: escrever descomedidamente.
O próximo é a loucura.
Estamos pertinho dela então...

Não sei nada de medidas...

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Estamos distantes de nós e isso nos ilumina ou nos cega? O que nos cega é o que nos devora? O que nos apavora é não estar perto ou longe, mas para além de tudo isso? Não sei onde estamos... Não sei do que estou mais perto ou distante. Eu não nada de medidas. Elas teimam em me excluir de suas planilhas cartográficas...