terça-feira, setembro 28, 2010

Escapar

Mais uma vez aqui estou
Para falar daquelas coisas de sempre
Para palavrear minhas impressões do mundo
Para ser grito em meio às palavras escritas...
Mais uma vez sou enigma em mim
E loucura prestes a explodir
E dispersão rítmica.
Mais uma vez eu sou flecha que voa longe
Para distante de mim e de tudo que me circunda.
Para nunca ser raiz...
Para simplesmente respingar-me por aí...
Além-mar...
Além de mim...
Além de tudo assim: meio sem fim...
Confesso que gosto de fugir a conceitos possíveis.
Gosto de confundir.
De indefinir.
É possível ver o mar da janela da alma.
E contemplá-lo nas ondas que batem imaginariamente.
Posso tudo aqui no espaço da palavra.
Posso tudo que não posso lá fora.
Posso tudo que me escapa.
Pois aqui, eu sei que livre, eu posso escapar!

Que...


Anestesias!
Algo me tome de qualquer caminho previsível!
E arranque meus pés de qualquer chão plano
E me faça vomitar tudo aquilo que não suporto!
Que eu somente engula a mim!
Que calar nem sempre seja a melhor saída...
Que sentir prevaleça sobre tudo o que há de ínfimo.
Que sonhar seja sempre belo e necessário.
Que sorrir seja um ato sincero e naturalmente desenhado.
Que amar seja a condição de tudo quanto possa haver.
Que se arriscar seja a medida da felicidade.
E que ser feliz seja a eterna procura disso
Com toda pureza e melancolia que possa haver.
Que eu não negue mãos e respeito.
Que eu desrespeite sempre tudo que for artificial.
Que o mel dos dias vindouros se espalhe sempre nessa ânsia de esperança que nos consome e nos alimenta!

O mundo nos cansa...

Eu não sei do que necessariamente estou cansada...
Nem mesmo sei se há um cansaço que se possa definir como "real" ou "palpável"...
Só penso que poderia haver menos dor ainda que a dor seja uma forma de encontrar o prazer.
Ainda que ela seja o próprio sentido da felicidade,
Dos momentos felizes.
Toda a vida não pode ser constituída somente do riso largo.
Todo caminho é composto de pedras.
Romper essas pedras, as rochas, os espinhos é uma condição do encontro com a alegria.
Com aquela alegria das horas e dos milésimos de segundo!
Eu já não sei dizer se posso resumir tudo que sinto agora como "cansaço".
É certo que muito nessa vida nos cansa.
O mundo nos cansa...
O próprio ser humano nos cansa!
Nós nos cansamos de nós. Da situação de sermos qualquer coisa diferente.
Há receios por entre as sombras.
Há um incômodo com o excesso de luz.
Há vida para além do limite da existência...
Régios trajetos, desmedidas vontades.
Há incompreensão agora. Espero que no próximo esforço de entender-me eu me sinta ainda mais insatisfeito,
Pois é nisso que reside minha poesia!

Como folhas...

Os dias têm sido difíceis. Muita coisa lá fora me apavora.
Um turbilhão de outras coisas me inunda aqui dentro.
Sou um pouco do reflexo disso tudo, dessas tensões insones.
A minha imediatez deseja romper essa cadência lenta do agora.
Desse tempo vivido na interioridade dos pensamentos, na exterioridade das expressões.
O certo é que somos como folhas...
Simplesmente voamos, nos dispersamos por entre as sendas.
Somos grandes angústias em nossa fala e em nossos olhos, mas somos também tomados de tons e brilhos únicos!
Alguém ao fundo indaga se podemos transformar nosso destino...
Eu penso apenas que podemos ser mais ou menos do que nele está prescrito...
Porque somos como folhas: nascemos para nos espalhar!

quarta-feira, setembro 22, 2010

Sem sentido.

Qual será a tua próxima história? Qual o teu rosto, a tua sina? Vem e me abraça e me ensina a ser menos ainda... Me torna pó ou tua vítima. Me desvirtua, me incrimina! Me faz bandida. Sem mel, sem rima, eu sou vencida. Desprotegida de mim, insone, caída. Velada pelas esquinas na noite fria. Meio fera, quase ferida. Indigna dos sabores da lida. Apenas viva, sem guia. Sem mais lamentos para o momento. Com mais anseio de venenos. Com buracos pelos braços, com vendas pelos olhos. Com vermelhidão pela face...

Sorrir

Era só um jeito de sorrir. 
Ser tão estúpido sem parecer. 
Se negar pra ver, pra confudir, pra derreter. 
Pra ser veneno, tensão rompendo. Pra ser possivel ou impossível.
Para nada ser. Eu sorria me escondendo. 
Me filtrando, agravando. 
E não falo mais de ter que sorrir.

Canto.

Canto como quem canta num cantinho. 
Canto devagarinho. Sussurando, baixinho... 
Leva vento, esse encanto! Melodias em pianos... 
Vai soprando um desengano, um desencanto. 
Flue um pranto, recolhido, rosto brando. Sonho tanto! O medo me escalando. 
Eu na nota derrapando. 
Colibris desafinando... 
Ceu furando meus enganos. 
Todo grito abafando. 
No cantinho esse canto. 
Essa bossa, esse fado. 
Tudo insano, misturado. 
Tudo em mim engasgado. 
Vem, que eu canto, ainda que o encanto seja tão desentoado!

Sambas, imagens e memórias

Sambo... Hoje vou sambar...
Vou ser partido alto ou girar nas rodas de samba de um velho bar... 
Cavaquinhos, badolins... Flautas para suavizar... 
Nostagias, alegrias, versos, risos, meu cantar! 
Com choros e velas, sem rimas, com estrelas...
É só um cantar desejoso... 
É um balanço do balaio... 
É um ritmo, uma batida... 
Uma viola, um chorinho... 
Um ventinho pelo rosto... 
Um sorriso embriagado... 
Um samba passional... 
Um samba de (re)mexer emoções... 
Um samba de saudades... 
E é tão bom acompanhar-me da cadência dela! 
É um samba-memória. 
Um samba para a vida carnavalizarmos! 
Dionisíacos reinarmos! 
Insensatos imperadores das ruelas, dos quadris das donzelas, das lamparinas ainda acesas... Das cachaças por sobre as mesas...
 Na ponta do pé gigando a vida: sedenta, bandida... 
Das certezas perdidas...
 No gogó as cantigas... 
Aqueles enredos que enfeitam as avenidas!

Rebeldia

"O que eu faço com as palavras é quase uma folia... 
É quase rebeldia. 
O que eu faço é me banhar das palavras. 
São as palavras que me fazem! 
São os sentimentos ou a fuga deles que me movem... 
São os riscos que me contagiam e as memórias que me afetam... 
São os sóis os meus despertadores dos encantadores momentos taciturnos... 
Sou essa mancha que fez do papel algo inútil agora..."

terça-feira, setembro 14, 2010

Para destoar: eu e o mar



Eu e o mar
Somente destoar
Somente delirar
Somente imaginar
Sou metade do anil
Do azul cintilante
Do azul turquesa
Do céu...
Pássaro distante
Voa cada vez mais longe
Segue seu destino errante
Ah! Mas para quê escrevo esses versos sem sentido?
Para quê querer dizer o não dito?
Para quê saudar os abismos?
Destoar é tão (im)preciso!
É abismo.
É vontade sem fim. É risco.
É para quem vive dividido entre o riso, a dor e o grito.

Eu e o mar


É curioso observar essa areia da praia.
Tudo paira, quando nela eu me sento para observar o mar.
Lá, perdida nos pensamentos vãos
Eu ouço o barulho das ondas batendo...
Convite a banhar-me de novas esperanças.
A me inundar de sonhos.
Mas há um medo de afogar-me.
Há um medo de despedir-me do outrora.
Há uma ânsia de atravessar a nado o nada infinito que se denuncia naquelas águas.
Mas há tanto...
Tanto céu por sobre o mar.
Tanto sol pra avisar que os dias amanhecerão.
Tanta nuvem desenhando nossas ilusões...
Tanta natureza nos admitindo ainda que assim: como vândalos que somos...
Há tudo.
Contudo, molhos os pés.
A água é muito salgada. Tenho medo de me temperar dela.
E será que tenho medo de ter gosto?
Tenho medo de ser saborosa?
De poder dar gosto...
Não desgosto do mar
Nem das suas areias...
Nem da beira-mar...
Afinal, quem sabe haja por lá aquele "táxi-lunar"
Para me convocar à outras tantas horas delirantes...
À tantas outras horas fora e dentro de mim...
Então que eu lave mais que o corpo, que eu lave a alma!

Da janela do carro


Da janela do carro a paisagem é poesia.
Na cabeça tudo se misturando...
Derivando-se...
Palavras para tudo.
Para tudo dizeres...
Para dizeres que a janela do carro pode ser um portal.
Pode ser a tela de uma pintura imaginária,
De uma ângulo bem captado.
Meus olhos são como as lentes de uma câmera,
Mas, fugidios por natureza, criam seus próprios suplementos diante do que visualiza.
Criam seus próprios momentos.
Projetam suas intenções amargas ou doces.
Enfeitam o feio.
Vêem o feio no belo.
São subjetivos! Sim! Mais que os meus olhos, são subjetivos os meus olhares.
Luas que sorriem se é noite.
Sóis que gritam se é dia.
E da janela do carro toda a semana transforma-se em filme na mente.
Os momentos vividos.
Os momentos partilhados.
Ou aqueles simplesmente imaginados!
Flashs...
Tudo como um raio.
E ao mesmo tempo, tudo como poesia.
Melancolia, saudade, nostalgia...
Sensações similares.
Tudo pela janela do carro.
Pela janela em movimento.
A vida em movimento.
A vida.

Sermos...


Ser o mar, ser o chão...
Ser a gota, a poeira...
Ser tanto em mim quanto em ti...
Sermos uma canção para não somente parecermos.
Sermos tudo sentindo.
Sermos tudo fugindo, sorrindo...
Sermos nós nos lençóis...
Sermos nós nas lareiras...
Nos veleiros...
Nos moinhos...
Sermos sem crer em destinos...
Em previsíveis caminhos...
Sermos o que nos basta ser...
Em nós rastros e um nó...
Uma cola descolante...
Descolados tão ligados!
Tão distantes, tão próximos.
Seremos nós o que a vida quiser que sejamos.
Seremos nós o que tu quiseres conter e provocar.
Já somos som, já somamos em nossa diferença.
Já destoamos as sentenças.
Já descremos das descrenças.
Já não sabemos dizer das utopias e dos riscos.
Somos fogo se espalhando porque há ventania levando...
Somos primeira pessoa do plural
Em conjugações verbais tão adversas...
Somos o próprio verbo entre a fala e a matéria.
Somos a poesia dessa língua melancólica e ao mesmo tempo desejosa.
Somos entre falas e silêncios todas as possibilidades do que podemos ser.

terça-feira, setembro 07, 2010

Sete ou Dez

Ser dez pra não ser sete.
Ser sete de cada mês.
Ser o décimo pensamento.
Ser a crise, o ponto, a crase.
Já não ter pontuação ou qualquer numeração...
Ser o sermos em nós.
Redundâncias tão burlescas...
Vergonhosas crateras da língua, da culta fala sem astúcia...
Por isso falemos do sete ao invés do dez.
Sete é o indesejado.
O maltrapilho, o desconsiderado.
Sete.
Sentir os olhares como agulhas nos perfurando.
Mexer o cabelo, embaralhando-o.
Subterfúgios do desregrado sete.
Depois há de vir o oito e o nove.
Antes porém, estão do dez.
Esse número fechado e desejado.
Enquanto o sete é a base.
Na enfurecida conta do que somos...

Setembro

Esperar setembro?
Ah, ele surge...
Ele vela
Ele encerra em si a queda, a flecha, a selva.
Ele grita as rimas malditas
Desvirginadas...
São manhãs, são madrugadas.
São alentos, são venenos.
São olhares pueris
Cheios de terra.
Balançados, medidos.
No balanço desse enredo meu setembro não é fevereiro.
Não é frevo, mas também não é degredo.
Foi vindouro em agosto.
Será história de outubros
Ou de tudo.
Ou de vento.
Sete endros...
Chá de tempo.
Vultos lembram, desorientam...
Eis setembro, sem serenos,
Sem calores, sem mistérios.
Eis as sete cores da vida...
Eis o mapa do sol.
Eis a relva, a senda, a trilha...
Eis setembro sedento de rendas
De cenas, de guetos.
De remos, de lagoas.
De remadores fortes.
Rumo aos tempos de setembro.

Terrores

Eu sempre soube destoar.
Sempre caprichei nos riscos.
Nos desvios...
Os crivos nunca necessariamente me amedrontaram...
O terror vem do outro, mas acima de tudo ele vive em nós.
Só persiste se o permitimos.
A ele a nossa ignorância.
O nosso despudor.

Ser grande

Tudo que pode ser grande em ti, está dentro de ti.
Não procure lá fora.
Aí dentro de ti há uma amplidão possível.
Há você.
Há o suficiente para manter a sede de vida.
Para permanecer insuficientemente completo.

Recortes

Eu fiquei disfarçando
Observando os acordes...
Desviando timidamente o olhar...
E tudo que eu gostaria naquele momento
Era de um lugar repleto de lírios
Para cobrir nossos carinhos do perfume deles...
E se tivesse um resto de lua lá fora,
Eu pediria que me levasse através do seu brilho até você...
Tudo que sinto aqui emana da tua presença em mim...
Dentro de mim...

Juventude d'alma

Ainda que nos falte alguma força, nós avançaremos rumo aos horizontes...
Mesmo longínquos, eles nos atravessam de desejos para os quais nem sequer despertamos ainda...
Continuaremos na busca das fontes da juventude não mais pelo simples desejo de preservar nossos corpos, mas para permanecermos leves em nossas almas...
Elas sim, precisam estar continuamente com a força e vigor juvenil...

Sou Rainha de mim


Sou a forma perfeita da imperfeição.
O riso desmedido.
Sou o incêndio provocado pela extensão das horas.
Esbravejo a história mal contada.
Dissimulo minha ferida mais interna.
Mas sobrevivo nos precipícios do desconforto.
As páginas mal escritas enveredam em mim o seu dissabor.
Dou mil faces à perfeição desejada, ainda que inatingível...
Milagre... Uma rosa florindo no jardim dos meus tédios...
Uma rosa branca pronta para se colorir das coisas do mundo...
Novo antigo enfeite dos momentos projetados.
Sinto aqui, por entre essas folhas de papel a dor que alastra o homem.
Gostaria de escrever coisas mais cabíveis em significados,
Mas isso me retiraria o sabor de criar... De fluir...
De ser irreal.
Pois a riqueza do que sou está nessa minha eterna perdição...
Essa perdição que me lateja...
Me condena e me coroa...
Sou rainha de algo qualquer...
Sou rainha de mim...

quinta-feira, setembro 02, 2010

Falar de saudades...


Falar de saudades é sentir os cortes e ao mesmo tempo suprimir as distâncias.
Falar de saudades é transportar sentimentos além tempo e espaço.
Saudade é esse buraco que a ausência deixa.
Saudade é essa semente de reencontro que a vida incita.
Saudade é a metade do corte pulsando.
É a marca da fala embargando.
É o riso causado pela recuperação dos momentos.
Saudade é lembrança!
Saudade é sonho, projeção, espírito.
É a dor da matéria fugidia.
É a inspiração do poeta.
É um tanto de melancolia
E outro de desejo...
Tem a magia dos sentimentos.
Tem mais que dor, tem poesia própria!
Tem lábio se adornando
E peito acelerado.
É doce, quando só pode ser amarga.
A saudade é o vento batendo no rosto para avisar-nos daquilo que um dia vivemos!

E a vida?


Ela podia sorrir, ainda havia lábios e esperanças.
Ainda havia sabores.
A ida a gente adia...
A lista se joga fora...
A língua se afia...
À guisa de qualquer compreensão...
Avisa, assim, da própria vida!
Não simplesmente a assista como um telespectador insone.
A sonorize, a invente, a corrompa.
A vida é boa quando se grita!
A vida é linda quando se vive e se admira.
Quando se brinca.
Quando se caminha.
Ela se (des)alinha se equaliza.
Pluraliza.
A linha e a vida.
A face lisa.
As joaninhas do jardim...

Transferências


Me transferir desse mundo...
Me transferir de mim...
Me transferir pelas ondas do rádio ou do mar...
Me ferir...
Me transformar...
Dar forma...
Deformar...
De forma que eu sobreviva
Em gesto e em palavra,
Com toda fome e sede que houver...